sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A paz de um sorriso


Ele nasceu dormindo, com a boca aberta e com uma expressão serena. O médico lhe deu a famosa palmadinha para fazê-lo chorar, mas em vez do pranto veio um sorriso tímido, quase que um pedido de desculpas por ter fugido à regra. O obstetra tentou outros recursos, mas o menino nem se deu ao trabalho de olhar o que estava acontecendo em sua volta, alheio aos anseios do profissional da saúde, o menino permaneceu com os olhos fechados, ninguém podia imaginar que o pequeno já sonhava e que os seus sonhos eram agradáveis.
O médico calejado, experimentado e testemunha de várias situações que fugiam o padrão de nascimentos não conseguiu esquecer do sorriso do menino que nascera sem dificuldades, tanto que o parto natural ocorreu sem grandes traumas para a mãe e com uma agilidade pouco comum.
O sorriso fora quase que uma traquinagem, igual à de uma criança que esconde um objeto e quando o adulto lhe indaga sobre o paradeiro do objeto recebe em troca um “não sei” que vem acompanhado de risinhos que delata o autor do sumiço do “algo” que se procura.
Naqueles dias que correram e nos seguintes que vieram o médico não se esqueceu do sorriso do recém-nascido, sempre que um fato desagradável lhe ocorria ele logo procurava esta doce lembrança para apaziguar o seu traquejado coração.
Assim, o velho médico prosseguiu com sua carreira e dizem que nos seus últimos momentos de vida ele um pouco delirante ainda disse: "como foi belo o sorriso que recebi, nem merecia tanto...".

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