segunda-feira, 3 de outubro de 2011

André



Caminhando por uma estrada de terra batida ele ia pensando aonde chegaria. Cansado das mesmices ele olhou para o céu e viu pássaros voando, formavam um v e ele sentiu pena de si mesmo. Desprezado, leproso, sem esperança, entregue a morte e abandonado pela família.

A sua pouca idade contrastava com a doença que se alastrava pelo seu corpo. Fora contaminado, mas nenhum dos seus irmãos estava com essa doença. A mãe tentara escondê-lo, o pai também, com lágrimas nos olhos tentaram, sem sucesso, ajudá-lo. Porém, a regra da sociedade era clara. Ele deveria ser entregue a morte certa do deserto, por isso foi expulso da sociedade.

A sua mãe arrumou alguns pães, uma vasilha com água e ele teve que ir embora. Contava o menino com a idade de onze anos. Franzino, de pele negra, dentes amarelados, cabelo encarapinhado, descalço, com uma bermuda descorada e uma camiseta bastante surrada. Era uma criança magricela, as perninhas e os braços estavam cheios de feridas.

O menino olhou para a mãe, o choro estava preso na garganta, ele a amava, mas ele não poderia mais ficar ao lado dela. Os três irmãos de dezessete, quinze e treze anos estavam na soleira da porta e o pai estava entre a mãe e os irmãos. Sem um abraço, um aceno ou um último afago, o menino pegou a sua sacola improvisada, feita de pano velho, virou-se e foi embora. A sua mãe avisou, que ele agora só estaria com Deus, mas que deveria seguir a estrada que saia da aldeia e seguir em frente até achar uma comunidade, onde as pessoas tivessem as mesmas feridas que ele possuia. Ela disse que lá ele ficaria bem.

Aos onze anos, André, o menino de uma aldeia próxima de Jerusalém, teve dificuldades para compreender o que realmente estava acontecendo, então no início da conversa com a mãe, ele perguntou quando poderia voltar e a mãe entre soluços disse que ele poderia voltar quando estivesse curado e sem as feridas.

A comida e a água acabaram rapidamente. O sol castigava a sua pele e logo todo o seu corpo começou a queimar de tanta ardência e coceira. André olhou para trás e pensou em voltar para casa, mas ouvira bem o que a sua mãe havia dito. Ele só poderia voltar quando estivesse curado, algo que ele não estava e tinha dúvidas se um dia ficaria.

André continuou a caminhar e depois de horas andando sem parar, em uma curva daquela estrada sem fim e sem ninguém, caiu de cara no chão. O seu corpo estava fraco, ele estava com a pressão alta devido ao calor excessivo e desmaiou sem defesas. A noite chegou e André imóvel continuava naquele chão cheio de terra e pedras. O seu rosto de criança estava sereno e ele se encontrava em paz.

A madrugada chegou e o frio assolou o corpo doente do menino. Sem forças para abrir os olhos André sonhava com uma luz muito forte. Sentia prazer naquela presença e dessa maneira morreu de hipotermia.

O seu corpo foi devorado por abutres e depois a sua caveira foi desfeita pelo vento, que também se encarregou de espalhar os seus ossos, que sumiram na poeira, na boca de animais e encoberto por pedras, que rolaram montanha abaixo.


André, onze anos, leproso, morreu sozinho no mundo físico, desprezado, sem uma palavra de proximidade. Porém, no mundo espiritual foi recebido com festa. Ele havia cumprido a sua missão. Deus estava feliz com ele.

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