quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A VELHA CAMINHONETE



No ano passado, em um casamento, eu estava conversando com um bem sucedido empresário sobre banalidades. Em dado momento o diálogo entrou em ter vergonha disso e daquilo outro. Nesse instante ouvi uma confissão que veio misturada com grande remorso.

Disse aquele homem que o seu pai era um vendedor nato, vendia tudo o que eu podia imaginar. Ele havia vendido enciclopédias, materiais para construção, roupas usadas etc.

Nesta época, aquele rico empresário era um menino e sentia vergonha do pai, principalmente pela caminhonete velha e barulhenta que o pai possuía.

Certa vez o pai começou a vender utensílios domésticos. Saía cedo fazendo um barulho imenso. Estes utensílios iam pendurados na caminhonete e aumentava mais ainda o barulho.

Toda noite o menino ficava deitado no seu quarto esperando o pai virar a esquina da rua da sua casa. Lá de longe ele podia ouvir o pai que chegava. Só depois disso ele dormia.

Na missa aos domingos ele achava que todo mundo estava olhando para a sua família e tirando sarro da velha caminhonete.

Mas o seu pai era muito bom, todo sábado e domingo ficava com a família e brincava com ele e com sua irmã. O pai sabia que ele sentia vergonha dele, mas não deixava por esse motivo de ser amoroso e brincalhão. Contava muitas histórias.

Porém em uma sexta-feira chuvosa ele dormia um sono profundo e não ouviu o pai sair para o trabalho diário. A noite ficou esperando, deitado no seu quarto, ouvir a barulhenta e velha caminhonete carregada de utensílios domésticos anunciar que o pai estava chegando. Não ouviu. Pelo contrário. A polícia bateu na sua porta e o soluço da sua mãe fez um calafrio percorrer a sua espinha.

O pai havia se acidentado. Um caminhão carregado de maça colidiu de frente com a velha caminhonete do seu pai. Nunca mais ouviria novamente o barulho do veículo. Também não teria mais a agradável companhia do pai nos finais de semana. O pai, de quem ele sentia vergonha, havia morrido.

Arrematou a narrativa dizendo que ele também tinha dois filhos, mas que não tinha tempo para eles e que apesar de ter um belo carro nunca conseguira ser tão bom para os filhos como seu velho pai havia sido para ele.

5 comentários:

  1. ELIEL, ACOMPANHANDO SEU BLOG, FICO ENCANTADA COM AS HISTÓRIAS E OS COMENTÁRIOS DE SEUS IRMÃOS. AH...VOCÊ MERECE!
    CONTINUAREI SEMPRE DIZENDO QUE SEU TALENTO ALEGRA O CORAÇÃO DE MUITAS PESSOAS.
    NEM PALAVRAS, NEM GESTOS, PODEM EXPRESSAR O QUANTO ADMIRO VOCÊ COMO PAI...FRUTO DE SUA INFÂNCIA, POIS NINGUÉM PODE TRANSMITIR O QUE NÃO TEVE. PARABÉNS!
    UM GRANDE ABRAÇO.
    H.A.S.

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  2. Meu caro, é impressionante a maneira como você vem escrevendo!
    Houve um tempo em que eu julgava ter alguma inventividade com as palavras, entretanto hoje vejo que quem de fato está granjeando os talentos é você e certamente já tinha cinco, o que mais tinha!
    Refletindo sobre essa parábola e colocando-a ao lado de sua trajetória, vejo um paralelismo perfeito.
    Gostaria que um dia você abordasse a história daquele menino que se machucou na escola durante o recreio. Fiquei com muita pena dele quando soube da história pela mamãe.
    Talvez você saiba, mas fiquei seu amigo apesar da diferença de idade e de vê-lo esporadicamente.
    O mais engraçado é que antes eu falava e hoje mais o ouço quando dá certo de nos encontrarmos.
    Quanto a escrever, parece que estou viciando-me novamente, porém ainda convalescente, preciso da inspiração dos seus escritos. Mesmo que não produza mais por minha conta, deitar umas frasezinhas tortuosas e quebradiças aqui me alegra demais.
    Até a próxima...

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  3. Esta história começou alegre e terminou triste mas infelizmente damos valor a coisas e pessoas somente após perdê-las, que esse texto possa motivar as pessoas a refletir sobre sua vida e sobre seu círculo de amizades. Boa semana. Alessandro Miranda

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  4. É Eliel, sua história mostra bem a vida como ela é.Em uma determinada época temos quem mais nos ama ao nosso lado e nao nos damos conta e talvez ela pareça até um incomodo em nosso caminho. Mas um dia ela desaparece por vontade própria por desejar nao sofrer, ou por vontade do Pai, aí nunca mais a vemos, talvez em outra vida, se é que isso existe.

    Só então percebemos o quanto perdemos, por isso dizem: "eu pq perdi quem mais amei, vc pq perdeu quem mais te amou". É um ciclo, é o destino traçado....

    bju

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  5. Primeiramente parabes por tudo que você escreve adorei muito seu blog!!!
    Obrigado por ter visitado o meu , ainda estou começando ,valeu pelo comentario por mais breve que tenha sido!!!
    Me de a permisão de colocar o link do seu blog no meu!

    Desde ja agradeço!
    Com carinho Ariel do carmo

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Obrigado. Fica com Deus.