sábado, 19 de junho de 2010

SARAMAGO


Na última sexta-feira, dia dezoito, aos oitenta e sete anos faleceu José de Sousa Saramago, um escritor português conhecido mundialmente pelo seu estilo peculiar. Foi premiado com o Nobel da literatura em 1998 e com outros inúmeros prêmios importantes durante a sua vida.

Era um ateu convicto, um crítico social ferrenho e um pensador refinado. Os seus livros foram escritos com parágrafos longos, em uma linguagem rebuscada e com uma pontuação bem incomum. Mas de fácil aprendizado e manejo, perto das possibilidades de reflexão que eles trazem.

Saramago não acreditava em religião, mas pelo menos do ponto de vista material demonstrou conhecer a Bíblia Sagrada, do ponto de vista espiritual era talvez para muitos, uma má influência. Os seus livros possuem um sarcasmo constante, suas frases são pontuais e encerram grandes ideias.

Os meios de comunicação exaustivamente falaram dos seus livros, principalmente daqueles que ele escreveu sobre a Bíblia, sendo eles “O evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Caim”.

O “O evangelho Segundo Jesus Cristo” foi publicado em 1991 e rendeu a Saramago uma fama ambígua, pois foi ao mesmo tempo boa e má. Em razão deste livro ele foi perseguido e mudou-se de Portugal para Espanha. Na obra ele fala sobre um Jesus Cristo demais humanizado, com as fraquezas, desejos e demais mazelas pertencentes aos pobres homens.

No livro “Caim” o escritor fala sobre o Velho Testamento e descreve com simplicidade algumas histórias, sempre tendo Caim como observador e “contador” da passagem. Neste livro ele retrata uma passagem entre Adão e Eva e deixa uma tirada satírica no ar, pois traz maliciosamente uma ponta de explicação sobre a guerra entre o sexo masculino e feminino.

Ele também escreveu “Ensaio sobre a Cegueira”, que virou filme, após adaptação do cineasta brasileiro Fernando Meirelles. Neste livro ele traz uma reflexão ímpar e uma indagação muito intrigante: “Como viveria o ser humano sem a visão? Como seria viver em sociedade sem ao menos conseguir acertar o vaso sanitário para aliviar as necessidades fisiológicas?

Na continuação do “Ensaio sobre a Cegueira” ele escreveu “Ensaio sobre a Lucidez”, onde ele retomou outra hipótese interessante, indagando qual seria a reação das autoridades se em uma determinada cidade, sem combinações anteriores conspiratórias, todas as pessoas votassem em branco e após repetição de nova eleição o mesmo evento se repetisse? Como seria a continuidade de uma Administração Pública sem a legalidade da outorga de um mandato através do voto popular? Como se comportaria os cidadãos sem um governo legítimo?

Ele ainda escreveu “O Homem Duplicado”, “Memorial do Convento”, “A jangada de Pedra” e muitos outros livros, contos, poesias, crônicas e peças de teatro.

José de Sousa Saramago deixou o mundo dos vivos entre aspas, pois jamais deixará de ser ensinado, lido e de influenciar gerações.

Os seus escritos são polêmicos porque mexem com as estruturas da sociedade, muitos não o consideram gênio, nem bom escritor. Devemos respeitar estas opiniões, mesmo se tratando de uma pessoa que foi agraciada com o Nobel da literatura.

Na ocasião de sua premiação, a mesma foi justificada pela capacidade de Saramago “produzir parábolas portadoras de imaginação, compaixão e ironia que tornava constantemente compreensível uma realidade fugidia”.

As suas obras estão disponíveis nas bibliotecas públicas. Ainda que não sejamos leitores ávidos e apaixonados, acredito que ler José de Sousa Saramago vale o tempo investido. Que tal?

Ao senhor, Saramago, meu votos que estejas melhor. Descanse em paz velho escritor, que a contenda de suas idéias e suas inquietações tenha agora se redundado em uma aceitação muda das forças espirituais que apenas imaginava existir ou que supunha ser diferentes.

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