sábado, 26 de junho de 2010

A morte da Mentira


A Mentira acabou de morrer no hospital da Misericórdia, segundo consta a crise de consciência aguda havia se desenvolvido nas entranhas da pobre Mentira e os médicos nada puderam fazer para evitar sua morte.

As informações não são oficiais, mas segundo fontes seguras o diagnóstico tardio, aliada a convicção da Mentira de que tudo estava normal levou a este quadro impensado. Os seus maiores fãs andam chorando pela praça, perguntando-se como será o dia de amanhã sem a Mentira no planeta Terra.

A escola fundada pela Mentira possui muitos doutores fervorosos, que sempre asseguraram que os postulados e os princípios preconizados pela Mentira cabiam em quaisquer situações, desde no âmbito familiar, passando pelo profissional até o religioso.

Os mentirosos como eram conhecidos os seus seguidores estão inconsoláveis, pois sabem que a inspiração maior não está mais presente. O vazio é tão grande, que alguns fãs dizem alucinados que a morte da Mentira pode ser uma jogada de marketing.

Infelizmente, para os fãs da Mentira, esta tese não se sustenta, já que a imagem do corpo sem vida da grande causadora de inquietações e dos porquês já está sendo divulgada na internet e nos demais meios de comunicação.

A Mentira deixou viúvo o Orgulho, com quem foi casada por milênios, deixou ainda filhos que possuem mais ou menos as mesmas idades, são eles: a Inveja, o Ciúmes, a Contenda, a Raiva, a Frustração, o Engano, a Ganância, a Falsidade, a Guerra e a Violência.

É preciso dizer que a Mentira trabalhou incansavelmente durante toda a sua existência na Terra. Foi graças a ela que grandes mal entendidos aconteceram. Foi pelas suas mãos que o mundo pode conhecer toda sorte de distorção. Ainda, foi pela mentira que muita gente se safou de punições severas e que outros se atiraram para o nada.

O trabalho desempenhado pela Mentira jamais poderá ser feito igualmente por seus filhos. Embora saibamos que todos eles são soberbos, prepotentes, boçais e que darão um jeito de honrar o legado deixado pela mãe.

A Inveja sofrerá barbaramente pela morte da Mentira, era uma das preferidas da mãe. A falsidade também sentirá a ausência da genitora, uma vez que era muito ligada a ela. Já o Engano, talvez também sucumba, se não cuidar da sua saúde mental, pois era na mãe que buscava a inspiração para o trabalho e os demais projetos que levava a bom termo. Sem a Mentira no mundo pode ser que a Guerra se sinta igualmente perdida e o seu ânimo talvez se arrefeça.

Buscando na memória a retrospectiva da vida da Mentira, observa-se que ela sempre viveu de forma plena e presente. Ela e a Verdade sempre se digladiaram e a Mentira adorava estes embates.

Uma das crenças é que a nossa sociedade sempre teve os pólos bem delineados por estes dois casais, a Mentira e o Orgulho de um lado e a Verdade e o Amor do outro.

Os mais antigos até dizem que a Verdade é irmã da Mentira e que o Orgulho é irmão do Amor. Segundo estes relatos eram dois irmãos e duas irmãs que moravam vizinhos, mas que a adolescência e a adoração os separou pois a Verdade era adorada pelo Orgulho e o Amor era adorado pela Mentira, mas neste rolo todo o Amor e a Verdade passaram a se adorar e ignoraram os sentimentos dos irmãos recíprocos. A confusão estava armada. Caso esta explicação seja correta a Mentira e o Orgulho se casaram unidos pelo abandono. Quanta contradição!

O mundo perdeu a Mentira. Ainda não foi divulgado onde ela será enterrada ou se será cremada. Sabemos que com a disposição que possuía a Mentira ainda teria muito trabalho a fazer. De qualquer maneira ninguém fica para todo o sempre. Assim é e sempre será. (Só para utilizar uma das frases preferidas da Verdade).

Adeus, pequena, grande, adorada ou detestável Mentira!

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