domingo, 4 de julho de 2010

Obra do Amor


Conversaram por horas. Estavam próximos como eles nunca estiveram. Os rostos não estavam colados. As mão não se tocavam. As vozes não se ouviam. Eles apenas se imaginavam. O tempo verbal empregado era sempre o do passado, mas eles estavam no presente.

O sorriso fácil era sentido. As perguntas feitas eram vômitos, de situações que o estômago se recusou em digerir. As respostas foram sinceras. O convencimento não estava em xeque, mas tão somente em apreciação natural.

A felicidade pelo momento era grande. Um diálogo quase que inacreditável. Durante quase três horas foram arrostados por cenas, histórias, acontecimentos, posturas adotadas, que nem sequer estavam pensando em desvelar.

Era pedir demais que se afastassem por mais um minuto. Era impróprio diagnosticar uma doença em um defunto que morreu de várias. Não haviam sintomas. Sobrava ânsia para manter em um nível aceitável a linha de raciocínio, que era a todo momento quebrada pela dificuldade do meio utilizado para a aproximação.

Era mais ou menos como pintar um quadro de um modelo ausente. Os detalhes estavam ressentidos. Entretanto, a satisfação era evidente, ainda que uma ponta de mágoa ainda despontasse depois de tanto tempo. O vento passou, mas deixou impressões severas naquele solo tão conhecido de ambos, o coração.

A morte por ela reclamada em tom de brincadeira não era desejo dele, mas o que fazer com a tentativa simples de convencimento de uma mente tão desejada? Ligados pelos fios. Ligados pelo invisível. Centenas de quilômetros os mantinham em segurança.

Os trajes não importavam. O trabalho a ser feito poderia esperar. A sobriedade demonstrada era menor do que a desejada. A cena era pitoresca. A história poderia ser escrita, mas ela não via necessidade de registro. Preferiu fingir desinteresse e carimbar como insignificante.

A trilha sonora estava rodando, Madonna cantava em companhia de Antônio Bandeiras. Mas tudo precisava ser deixado de lado por um momento, a noite os abraçava e com beijos soprados se despediram.

O abraço há tempos pedido não foi dado. Um beijo real não foi trocado. Mas eles já estavam felizes, haviam se encontrado, ainda que tudo levasse a crer que nunca estiveram distantes, pois no coração de cada um daquele dois amantes haviam habitações recíprocas.

Com certeza, quando os brinquedos ficaram espalhados pelo quintal, o carinho e o bom senso haviam recolhido tudo e colocado em uma caixa. A caixa depois foi devidamente alojada em um cantinho do coração e foi catalogada como OBRA DO AMOR.

Desligaram juntos. Cada qual foi tomar banho em seu cantinho. Era mais um episódio que se assentava em seus corações. A música foi sumindo, alguém diminuía o volume do som, até ficar inaudível. O silêncio outra vez estava soberano.

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