segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Quem um dia...



Quem um dia não pensou que a alma seria uma mera cópia do corpo físico? Quem um dia não sentiu tédio por não ter nada o que fazer e pegou-se a pensar nas fronteiras entre o visível e o invisível?

Quem um dia não perdeu o sono e ficou a ouvir o barulho irritante de um relógio? Quem um dia não sentiu fome, sem saber do quê? Quem um dia não sentiu tédio? Quem um dia não chorou de tristeza ou de alegria?

Quem um dia não se sentiu ridículo? Quem um dia não se arrependeu de ter deixado passar a oportunidade de resolver uma situação que acorrentaria a tua consciência por décadas? Quem um dia não se rendeu a comentários esdrúxulos, porque nem percebeu o que era dito? Quem um dia não se apaixonou por idéias bobas?

Quem um dia não pensou que o mundo havia desabado? Quem um dia não brigou por ter entendido errado uma situação? Quem um dia não se emocionou com um gesto de carinho dos pais, dos irmãos ou de amigos?

Quem um dia não foi fraco? Quem um dia não se enganou para camuflar uma dor? Quem um dia não planejou uma noite e as coisas deram tudo errado? Quem um dia não ficou extasiado só por um olhar, por um telefonema ou por um pensamento feliz?

Quem um dia não achou que havia achado a solução para os problemas e percebeu que havia arrumado outros? Quem não teve perdas? Quem nunca teve ganhos? Quem em algum momento não fez tudo certo, mas nada disso importou?

Quem nunca fez coisas por graça? Quem em uma noite não foi impedido de dormir por uma mosca que zunia uma canção desafinada? Quem um dia não prometeu uma revolução na sexta-feira e na segunda-feira já havia desanimado?

Quem um dia não se sentiu desprezado pelo mundo? Quem um dia já foi amado e não correspondeu? Quem um dia não amou? E foi ignorado. Quem um dia não viajou? E lá só desejava retornar pela decepção do local. Quem um dia não foi a uma festa? E teve que agüentar um tio contar longas histórias.

Quem um dia não disse: ah! Se fosse comigo? Quem um dia já não irritou alguém sem querer? Quem um dia já não irritou alguém de propósito? Quem um dia já não foi irritado? Quem um dia não desejou fortuna e longas férias?

Quem um dia não supôs ter menos do que realmente tinha? Quem um dia não desejou ter engolido as últimas palavras proferidas? Quem um dia não sofreu por ter magoado um amigo, uma amiga ou uma namorada?

Quem um dia não escreveu um poema, uma carta ou uma frase de amor, de saudades ou de desaforo e logo em seguida a rasgou pensando que faria papel de idiota?

Quem um dia não sonhou com os filhos nascendo? Quem não fez planos para casar-se? Quem um dia não procurou a alma gêmea num lugar e a encontrou em outro? Quem um dia não sonhou com uma profissão e acabou tendo outra?
Quem um dia não se enganou em uma curva do caminho e acabou no acostamento, tendo por companhia só a solidão? Quem um dia não desejou deixar de desejar? Quem um dia não percebeu a parábola que é o caminho do homem na terra?

Quem um dia não vai envelhecer? Quem um dia já entrando em anos não deixará de ter as forças da juventude? Quem um dia não verá passar pelos olhos suas obras boas e más? Quem um dia, agonizando, dormindo, ainda novo ou já velho não morrerá?

Quem um dia foi diferente dos demais em tudo? Quem um dia não pensou na vida como um conto ligeiro? Quem um dia entenderá tudo? Quem um dia não fez todas estas indagações? Quem um dia não se deixou apenas estar, ficar e aos poucos dormiu e teve um sono sem sonhos?

Quem um dia se importará com tudo isso, se conseguir alcançar um estado espiritual onde tudo seja impregnado de luz, de harmonia e de paz? Quem?

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