sábado, 9 de outubro de 2010

Um idoso


A boca trêmula, as rugas presentes num rosto cansado, olhos claros que tantas histórias presenciaram, raciocínio lúcido, ouvidos que poderiam estar melhores, mas não estão.

Os olhos que ainda cintilam vida, desejo de ficar por mais tempo nesta face de Terra. Com certeza arrependimentos, alguns que deve calar fundo, dois filhos, um morreu cedo demais, para a compreensão do pobre senhor, mas deixou de uma relação avulsa um filho, o único neto do idoso, hoje ainda criança, a outra filha, bem casada, religiosa não gerou, já está se aposentado, logo também entrará na velhice.

O senhor ainda perambula pelo setor sem serventia, aposentado, com esposa depressiva, a espera de alguma coisa que ninguém sabe o que é, mas que todos sabem que jamais virá.

Alvo de sarro, sem ouvir direito, sem dignidade, com mais dinheiro do que precisa para viver, é uma incógnita, o tempo de felicidade se foi, sua última oportunidade ele está desperdiçando, mas para ele está tudo certo, normal, ele vive com se o amanhã sempre fosse se apresentar, teme a morte, nem sequer imagina-se em uma urna funerária, embora tome alguns remédios, inclusive para o coração, que de vez em quando falha.

Com nome de santo, seu passado, segundo alguns, depõe contra sua atual bondade, mas o importante é em que as pessoas se tornam, pois o que foram está morto e enterrado, devendo ser esquecido.

Uma existência, que quando acabar poucos choraram e até ele próprio se sentirá, enfim liberto.

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