sábado, 11 de dezembro de 2010

Lembranças da Segunda Guerra Mundial


A neve cobriu mais do que corpos putrefatos,
Com aquela quantidade que caiu os rastros foram oportunamente apagados,
O clima úmido, a visibilidade baixa permitiu a seleção natural,
De todos os presentes poucos fugiram, muitos sofreram e deixaram a vida,
A capacidade de pensar subjugada pela dor aguda dos membros gangrenados,
O fechar dos olhos e o abrir, a fim do sonho despertar, foi inócuo,
O pesadelo não passava, não era imaginado, era real,
A próxima hora era uma incógnita e desejávamos só a morte,
Caso ela viesse rápida e partisse com nossas almas seria uma alívio,
As crianças permaneciam com os olhos abertos, mas estavam mortas,
Os poucos animais ali presentes estavam igualmente sem vidas,
O cenário era desolador e tudo isso havia sido concebido pelo homem,
O homem que era bom com os amigos, feliz na família,
Que dava e recebia presentes, que tinha filhos, mãe e pai,
O homem que desejava o chá quente servido na sala,
Que desejava com ânsia a cama com a amada,
Mas que naquele frio, cumprindo missão que não era dele, matava seus semelhantes,
O grito preso na garganta, a raiva vencida e o ódio amortecido,
Quando as forças acabam é muito interessante o que acontece com nossos brios,
Eles arrefecem, nos tornamos sombras do que fomos, o ânimo some e as forças nos abandonam,
A ofensa era tão grande que deixamos de pensar no que poderia ter sido,
Apenas esperávamos a escuridão negra que iria abraçar os incautos e nos libertar,
Perdemos naqueles meses a condição de humanos, passamos a ser coisas,
Os tiros, a câmara de gás, nossos corpos esquálidos e a fome deixaram de ser problemas,
Eram destinos, locais onde os barcos do adeus zarpavam rumo ao céus ou ao inferno.

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