sábado, 29 de janeiro de 2011

O epílogo da vida de Verbo


Verbo conversou muito com a mãe, ele não guardava mágoas, mas ela era pura desilusão, disse que jamais o esqueceu. Porém, afirmou que perambulou pelo mundo, que nem sabia do evento de lançamento do seu livro. Entretanto, ao passar em frente ao hotel viu uma foto dele e o reconheceu na hora, inclusive pelo nome que ela lhe dera.

A mãe de Verbo no encontro com ele já tinha setenta e cinco anos. Verbo conseguiu alojá-la no asilo que ele mesmo fundara em Gumercindo Brás, ia visitá-la todas as tardes. Tomava chá e comia bolacha de água e sal com a mãe. Passado três meses que a mãe de Verbo estava no asilo ela morreu serenamente em uma noite quente de dezembro. Segundo os médico foi um problema no coração. Verbo chorou, mas entendeu que a vida da sua mãe não tinha mais objetivo, talvez o último tenha sido encontrá-lo uma última vez. A vida da mãe de Verbo fora tão complicada que ele sabia que agora ela, enfim, descansaria.

Outras primaveras vieram e foram embora. Outros ipês floresceram e suas flores encantaram olhos. Verbo continuava com saúde e ativo. Os exames médicos feitos rotineiramente não acusavam quaisquer problemas.

A esposa de Verbo, Ana, era dedicada e o amava muito. O filho dela, Marcos, que Verbo “adotara” também amava Verbo e era muito esforçado. Cursou filosofia. Verbo não conteve as lágrimas na formatura, pois sentiu que realizava no filho adotivo o seu sonho de ser filósofo.

Com a idade de setenta e quatro anos Ana faleceu de falência múltipla dos órgãos, Verbo escreveu uma homenagem e mandou registrar no mármore que recobria a sepultura da mulher amada, dizia assim:

Ana,


“Foste para mim mais do que um porto seguro, foste meu tudo, sei que em espírito ainda vive em mim e que eu em espírito ainda te sinto. O teu beijo ficou no meu. O teu carinho me serve de alento. Nas madrugas frias sinto o seu abraço e sofro pela falta do chocolate quente que só você sabia fazer. Lembro-me de ti com carinho, ainda assopro beijos e envio boas energias para que não temas o teu caminho. Espero que ainda possa me querer deste outro lado da vida, pois sinto muitas saudades de ti”.

Do seu sempre, Verbo Rodrigues de Souza


Marcos que já era casado quando a mãe morreu convidou o pai para morar com ele. Verbo recusou-se, sentia-se triste, mas, ainda era forte, saudável e cuidava de dois Orfanatos e do Asilo, resolveu então, voltar a morar no Orfanato. Mas ali ficou só um mês, pois a sua saúde se debilitou rapidamente após a morte de Ana e logo ele foi morar no Asilo, mesmo sob os protestos do filho Marcos para ele viesse a morar com ele. Verbo foi irredutível. No Asilo Verbo teria mais cuidados médicos.

Nos Orfanatos e no Asilo foram colocados outros presidentes. Verbo não mais se recuperou e em uma tarde fria de agosto ele deixou o mundo dos vivos para se juntar a sua amada Ana.

Verbo, menino branco, órfão, jamais teve raiva do mundo, lutou pela diminuição das desigualdades sociais. Deixou de realizar muitos sonhos, mas quando morreu levava consigo uma consciência em paz e a certeza da missão de sua vida ter sido cumprida.

O prefeito de Gumercindo Brás decretou luto oficial por sete dias. O Governador do Estado do Paraná veio para o enterro de Verbo. Foi uma cerimônia muito bonita. Vieram às crianças dos Orfanatos não só local, mas nacional, houve excursões. Diversos idosos de muitos asilos também vieram. Foi rezada uma missa. Marcos o filho adotivo de Verbo disse essas palavras para uma rede de televisão: “Perdi mais do que um pai, perdi um exemplo de superação e de bondade. Verbo foi um homem honesto, lutou contra as desigualdades sem nunca ter abandonado os seus princípios morais, não morrerá em nossas lembranças vai virar um mito”.

Enquanto o caixão de Verbo Rodrigues de Souza era descido na terra, no mesmo sepulcro que estava Ana, os presentes aplaudiam, muitos choravam e outros sorriam, parece que o próprio Verbo dizia em seus ouvidos: “eu estou bem, não chorem, sempre serei amigo de vocês”. Com o término do sepultamento uma chuva fina começou a cair. A multidão logo foi embora. O barulho da chuva parecia aplausos vindos das nuvens. Verbo agora estava voltando para os céus, com certeza ele era um anjo e a sua estada na terra havia chegado ao fim. Era agora, o momento de partir para o descanso merecido.

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