sábado, 29 de janeiro de 2011

A vida adulta de Verbo


Com vinte e um anos Verbo conseguiu uma namorada de verdade. Descobriu, enfim, os prazeres carnais mais acessíveis e mais íntimos à disposição dos seres humanos. Apaixonou-se e sofreu com o amor, teve ciúmes, dores que desconhecia e perdeu por muitas vezes a paz. Chegou a se arrepender por ter começado o namoro.

Os afazeres no Orfanato consumiam muito do seu tempo. Ele só tinha hora para entrar, mas nunca hora para sair. Era muito esforçado e inteligente. Ajudava a todos. O jeito introvertido aos poucos foi melhorando e ele ficou mais sociável. O namoro terminou após um ano e meio e Verbo prometeu para si mesmo que não se arriscaria tão cedo novamente.

Com vinte e cinco anos Verbo tornou-se presidente do Orfanato. Consegui mais patrocinadores. Estreitou os laços de "amizade" com o Ministério Público e com o Judiciário. Começou a se tornar conhecido. A sua história já era de sucesso. Foi capa de uma revista de grande circulação no país, sob o título “Verbo, mas do que uma ação, um verdadeiro acontecimento”. O texto frisava a vitória de Verbo de ter sido um interno do Orfanato, que virou presidente sem nunca ter de lá saído.

Com trinta anos Verbo fundou outro Orfanato na mesma cidade de Gumercindo Brás, interior do Paraná. A cidade de 300 mil habitantes agradeceu. Aos trinta e cinco anos fundou um asilo com patrocínio dos Governos Federal, Estadual e Municipal. Verbo recusou muitos convites para ingressar na política, sentia que não podia ser partidário, pois iria inviabilizar a vinda das contribuições que recebia.

Verbo continuava a morar no Orfanato, tinha lá o seu quarto. Frequentava muito às missas, continuava sendo um bom homem. Possuía uma saúde ferro e ainda sonhava com um ensino superior, gostaria de fazer Filosofia, acreditava que poderia, assim, passar a entender melhor o mundo e a natureza das coisas.

Aos quarenta anos Verbo reencontrou uma ex-interna do Orfanato, Ana, por quem sempre nutrira grande afeição. O seu coração lhe pregou uma peça e Verbo se apaixonou. Ana tinha trinta e nove anos era divorciada e tinha um filho, Marcos, de doze anos.

Passados seis meses de namoro Verbo enfim casou-se com Ana. Foram morar em uma casa grande de quatro quartos. Verbo deixava depois de quarenta anos o Orfanato que o acolhera quando ele era um recém-nascido. Houve choro, mas Verbo ainda continuaria a trabalhar no Orfanato, aliás, trabalhava não só no mais antigo, como no Orfanato mais novo e ainda no asilo. Era presidente de todos e possuía muitos colaboradores, os quais ele tinha como verdadeiros amigos.

Aos cinquenta anos Verbo escreveu um livro com a ajuda de duas jornalistas de Curitiba, que eram pesquisadoras na área social e se interessaram por seu trabalho, o livro ganhou o título de “Segurem as crianças órfãos pelo coração”. A epígrafe do livro Verbo pensou sozinho, nem correção aceitou, escreveu assim: “Choro pela falta de amor de muitos e sorrio pela bondade de tantos. Não há dinheiro no mundo para pagar um abraço pequeno e um beijo melado de uma criança, que pelo destino já nasceu perdendo, mas que pela perseverança de amigos colaboradores consegue demonstrar em seus corações tão pequenos a essência do próprio Deus”.

No dia do lançamento do livro “Segurem as crianças órfãos pelo coração” Verbo vestiu um terno preto, uma camisa branca e uma gravata vermelha impecável. Ao lado de Ana e de Marco, o filho que tratava como se fosse seu, tirou muitas fotos.

Quase no final da festa de lançamento ele viu uma senhora de cabelos brancos, rosto todo enrugado, parada olhando fixamente para ele. Dentro do seu peito as batidas do seu coração aceleraram. Sua visão ficou nublada, mas ele não teve dúvidas, os olhos daquela mulher não podiam enganá-lo, pois eram os mesmos olhos que ele via no espelho há cinquenta anos.

Apressou os passos e se dirigiu até a mulher e sem dizer uma palavra foi abraçando aquela senhora judiada pelos anos. Sabia, enfim que estava abraçado a sua mãe, as lágrimas banharam seu rosto e também corriam livremente pelo rosto da sofrida senhora.

Para ele pareceu que havia vivido para aquele momento, sentia-se grato por tão belo presente. Demorou, mas agora estava nos braços de quem tantas vezes desejou estar quando era criança. Quanta falta sua mãe lhe fez e agora poder abraçá-la era como se ele voltasse a ser o garoto tímido da infância.

O tempo naquele instante congelou e as perguntas eram tantas que ele deixou para depois, só ficou ali abraçado com a mãe e uma multidão curiosa assistindo a cena e querendo uma explicação.
A vida de Verbo, daquele dia em diante teria novo sentido...

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