sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Os nossos erros


Joga-se lixo pela janela dos veículos e reclama-se das ruas sujas. Desrespeita-se o Código de Trânsito Brasileiro, mas criticam-se as multas por infrações. Jogam-se entulhos em quaisquer lugares, mas não se suporta o cheiro, os bichos e a inconveniência das calçadas que ficam inutilizadas.

Detesta-se o atendimento no serviço público de saúde, mas por ser gratuito, caso fosse possível, até exame médico para usar piscinas de clubes seria solicitado. Argumenta-se que não há emprego, mas não há qualificação, nem paciência e humildade para aceitar o começo da carreira.

O som alto do vizinho incomoda, te perturba, mas você esquece-se da sujeira que varre para frente da casa dele. Esquece ainda, de ser cordial e falar um oi simples e básico. Você não se esforça o mínimo para manter uma urbanidade, mas dos seus direitos você acredita saber tudo.

A polícia para você é corrupta, não serve e é truculenta. Mas quando ouve um barulho no seu portão diz todo trêmulo para a esposa: “chama a polícia”. Os seus problemas de segurança pública são graves, não solucionáveis e retira vossa paz. Entretanto, caso um guarda civil municipal atendendo uma ocorrência qualquer lhe solicite seus dados para ser mera testemunha, você se esconde e nega ajudar o sistema.

Os seus pais são ultrapassados. Os seus filhos são exigentes. Os seus netos são indiferentes e na sua época tudo era melhor. Mas você não admiti que o “cansado” é você. Você apaga da sua mente suas limitações e exige o melhor de quem só pode ser espelho seu e como tal reproduzir seus fracassos e seus sucessos.

No casamento ninguém admite a culpa por desilusões, separações e divórcios. Mas ainda há espanto com a infidelidade. Diversos casais esfriam com o tempo. Outros tantos deixam as coisas para depois alegando falta de tempo, de dinheiro, de estrutura etc. Mas para seus novos amores eles terão espaços na agenda. Reclama-se tanto do outro, mas constata-se que o maior problema é o próprio reclamante.

Na política cansa-se de ouvir pessoas cheias das suas próprias verdades dizendo: “ninguém presta”, mas poucos saem da sua zona de conforto, do seu anonimato, da sua condição de plateia para testarem na pele e na prática suas convicções e planos. A população incitada por qualquer coisa reclama do vereador, do prefeito, do deputado, do governador, do senador, do presidente da república, mas nem sequer recorda em quem votou. É claro que nem precisa ser mencionado que muitos “justificam” suas ausências nas votações.

O salário é pouco, mas cortar gastos nunca dá. Planejar então nem se fale. Que dificuldade! A culpa é do governo, da inflação, dos tributos etc. Mas, nunca sua. A aposentadoria é pouca. O salário mínimo é ridículo. Tudo sobe e os gastos são enormes. Você sabe disso há trinta anos e em três décadas convivendo com esses problemas ainda não foram suficientes para você achar uma solução, uma equação para administrar seus recursos.

A educação é de péssima qualidade. Falta estrutura. O salário do professor é ruim. O aluno, sempre o filho do vizinho, nunca o seu, é mal educado e violento. Mas a sua contribuição para o caos escolar nunca é computada, porque você é uma vítima da crueldade do Estado assistencialista. A sua omissão é impotência e não conveniência. Você é um sofredor, vítima da tirania imposta pela democracia.

No seu íntimo você quer ser bom, quer ajudar, mas tudo é tão complexo. A correnteza dos dias e das ideias coletivas te levam e você continua a reclamar durante um almoço em um belo restaurante, também reclama na fila do caixa do supermercado, na beira da praia e no congestionamento do trânsito. A verdade é que onde quer que você esteja você esbraveja de tudo e de todos.

Ah! Se eu fosse isso ou aquilo... Ah! Se fosse comigo... Sem falar nas fórmulas mágicas que você explica com palavras ingênuas, como se todos soubesse o caminho batido, mas preferissem o sofrimento da mata fechada. A simplicidade como você resolve os problemas seculares é tão encantadora que chega a dar sono. O tom da sua voz ao explicar como gera mais emprego, como se faz para administrar o país e os investimentos nacionais é o mesmo que você utiliza para pedir seus pãezinhos em uma padaria.

Enfim, acredito que os nossos erros não devem ser justificados. Em razão, de atestarem nossa culpa e a nossa falta de comprometimento com a solução de problemas, acabamos deixando de reconhecer nossas parcelas de responsabilidade nos acontecimentos das nossas vidas. Deixar a vida nos levar pode dar certo na música, mas contribui muito para a mediocridade. Que tal melhorar o nível das discussões em todos os segmentos da sociedade começando por mudanças básicas de comportamento como buscar informações antes de criticar, ser mais educado com o próximo, mais interessado e muito mais atento nos fatos que ocorrem perto de nós? Pode ser um começo.

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