terça-feira, 19 de julho de 2011

Andanças*



(*texto imaginado)
Começo a escrever igual iniciaria um pianista, que executa a mesma canção, noite após noite, no restaurante de um velho hotel, que já foi garboso, mas agora apenas mantém a austeridade e a fama.


Refiro-me aos dedos, os meus e os do pianista, servos da mente, que, diferentemente do cérebro, que voa, apenas percorre os espaços languidamente. A minha intenção é falar sobre andanças; a do pianista, que imaginei, talvez fosse apenas a de realizar mais um espetáculo, que pouco tinha de emoção e muito de gestos mecânicos.


Eu não tenho muito de lá ou de cá fisicamente, às vezes, caminho até o portão da minha casa. O máximo que já saí foi até o centro da cidade, pois as minhas pernas não são tão boas, e a minha idade ainda é pouca. A minha cadeira de rodas foi um presente, e gosto dela; sem muito luxo, mas eficiente.


Desde que me conheço por gente, não ando. Como mamãe e papai não saem muito, fico por aqui. Eu já brinquei muito em casa, mas agora, aos quatorze anos, eu escrevo, nem bem nem mal. Mas nesse texto quero ir aonde posso, como a minha imaginação. Desculpe-me se não agradar; pode parar se quiser, mas, de qualquer forma, apenas me perdoe a ousadia de voar.


Bem, se você continuar, daqui para frente está por conta própria. Tente me imaginar e aplauda.
Eu fui sem a minha cadeira de rodas. Eu fui sozinho...


Acordei um dia, aloprado, e resolvi ir por aí. Eu fechei os olhos, igual fecham os medrosos em frente à televisão, quando está passando um filme de terror. Na imensa escuridão do meu quarto, vi pequenos pontos brilhantes aparecerem.


De repente, um ponto me alcançou e me acertou o rosto em cheio, igual os punhos fechados do pugilista que acertam o rosto do oponente... Poft! A queda foi dada como certa, mas, em vez do chão, fui para o céu.


Quando senti a brisa suave assoprar a minha face, eu percebi que voava. Olhei e, no lugar dos meus braços, eu vi asas. Que beleza! Como voar era bom... Fui ao mundo do cinema. Fui às cavernas. Visitei pirâmides. Fui a zoológicos. Fui a museus. Fui a jogos de futebol.


Encontrei uma amiga, dei um abraço, e logo voamos juntos. Corri de cangurus. Abracei tigres e tirei foto de girafas, elefantes e acho que de mamutes. Vi o papa. Fiz o sinal da cruz.


No caminho de volta, eu não me perdi. Estava em plena felicidade e apenas disse: “Obrigado, Deus, minhas pernas não me levam muito longe, mas o senhor me carrega nos braços e, através dos meus sonhos, me conduziu ao teu paraíso”. Obrigado!

Um comentário:

  1. ...muito bom mesmo!!!!
    hoje e sempre... abraços!

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Obrigado. Fica com Deus.