segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um dia




Em um dia qualquer as coisas se esclarecem e o lado obscuro dos acontecimentos se desvela. O quebra-cabeça se completa e a figura se apresenta. O interesse pelo mistério termina e a atenção passa a outro fato.



O julgamento é sempre do juiz da causa e o magistrado sempre é a cabeça pensante que levou o corpo para cá ou para lá. O engraçado é que quase sempre há plena convicção dos feitos. A composição não é desejada, tão somente é esperado o convencimento sem resistência.



A vida segue ... Há uma ruga a mais, um novo fio de cabelo branco, mais uma cicatriz e um monte de pensamentos que tinge o coração de uma coloração brilhante, mas indecifrável.



Os raciocínios nunca se amoldam. É preciso deixar os corpos se entenderem, porque as almas, por mais que sejam gêmeas buscam o próprio caminho, uma vez que a viagem sempre é para lugares diferentes. O bilhete de embarque já traz o destino e por mais que queiramos alterá-lo isso será impossível. O caminho é inexorável.



A vida é um circo, onde a maior comédia é o stand up. Há risos ensandecidos dos próprios atores. Há o ridículo e quase sempre o ininterrupto espetáculo não se distingue da realidade observada. A ansiedade é tão somente uma mão forte que prende o nariz e rouba o ar dos pulmões.



O começo pelo fim é uma tremenda sacada. Coma primeiro a sobremesa, como certa vez um filme apresentou uma menina, que dizia que começava pela sobremesa, pois caso ela morresse antes da comida principal não perderia o melhor da refeição.



Um amontoado de palavras só se transforma em um texto pela coerência dada pelo autor, que ouvindo uma trilha estranha conseguiu conceber idéias que traduziram um amontoado de certezas frágeis como um bebê que acaba de nascer.



A dança é agradável aos olhos quando se percebe harmonia, entre os passos e a melodia que invade a mente através dos ouvidos. O choro alivia, mas o riso sempre é melhor. A crença no impossível é apenas parte do asfalto. Crer é ter.



Amar é um estado de espírito. A paixão é perturbação psíquica. A emoção é apenas um tremular da alma. Um gostar é tão somente um meio sorriso. A saudade é um indescritível desenho, que suga o próprio desenhista.



A culpa é uma indicação de que é preciso alterar os ponteiros do relógio. Os segundos atrapalharam os minutos e a hora travou. A confissão dos pecados é viver como a sociedade quer e não há possibilidade de revolução nesse postulado. Aos noventa anos os anciães entendem melhor. Somos jovens...



Certa vez, o asno encontrou a rosa e depois de cheirá-la resolveu engoli-la, como não a mastigou acabou com a flor enroscada na garganta. Ao expirar pela última vez pensou com a morte era cheirosa.


O pior é que existe o péssimo hábito de não ouvir o que é dito. Na televisão, no rádio ou na internet há sempre a resposta automática para as dores. As histórias não são novidades, são repetições do que já se reproduziu no relacionamento humano.



A dor física é suportável e a dor emocional é arrebatadora, delirante e por ela se encontra a casa do pranto, do desespero e se lança doentes e sãos nas profundezas dos contornos do que realmente há. As melhores conjurações são feitas em um quarto escuro.



Consegue enxergar o ontem? Por favor, deixe brilhar... Mesmo que pela fresta da sua memória, de vez em quando ocorrerá uma visitação e nesses dias haverá sorriso sincero e verás que alguns segundos valeram vidas. Quantos amantes desde Romeu encontraram suas Julietas em seus braços e abraços, mas tiveram que deixá-las partirem? O sol sempre se levanta e a vida sempre segue.



O melhor disso tudo é que o padrão foi banido e a razão enlouquecida se apaixonou pelo condutor da charrete, que levava um porco com uma maça na boca. O sucesso dos aplausos de um cantor desafinado criou a mágica. O porco se transformou em um pássaro e a maça se transformou em um escapulário. Tudo dali em diante seria fantasia e o pior é que jamais haveria algo errado, pois a esquizofrenia os abençoou e os vaticinou a serem felizes para sempre.



Com isso tudo fica o entendimento envergonhado e a sensação de que o frio não vem da janela aberta, mas sim do abandono no altar não da igreja, antes fosse, mas do altar da própria idéia que muitos se perdem no caminho pela incapacidade de estender a mão e agarrar a do amante que sendo oferecida é recusada pelo medo do calor que emana dos verdadeiros sentimentos.




O início foi e sempre será lindo ... Nunca será hora de parar de sonhar... A realidade nunca foi e nunca será nada além de um sonho sonhado em um nível pior do sono. Que o teto te abrace e que as paredes desapareçam, enquanto uma música linda e suave começa a ser tocada, ao fundo, por um instrumento de sopro bastante conhecido... Nessa música as primeiras palavras serão de alento e enquanto o sorriso engole o discernimento, a consciência se sentirá em paz e o desejo pelo corpo, que adormecido repousa embaixo de grossas cobertas, será diminuído até o nada ter toda a dimensão do ser que se transforma em luz e some no horizonte de prata.

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