Ele era um senhor magro, aparentava ter oitenta anos. O seu cabelo era ralo e muito branco. O andar era firme. A sua expressão era bondosa e interessada. O seu corpo era esguio e neste dia ele usava camisa branca e uma calça social cinza. O sapato preto combinava com o cinto, que era trabalhado com traços diagonais.
A fala do ancião foi dirigida a um grupo de jovens solteiros de uma igreja católica, em uma tarde de um domingo frio de agosto. Ele começou se apresentando, disse que tinha algumas primaveras, que sabia ler e escrever e que amava a vida, sobretudo Deus, que seu nome era Amigo, pois assim era mais fácil de lembrar-se da sua graça. Todos riram desta apresentação.
O homem disse que ainda era aluno da vida, mas que as suas primaveras possibilitavam ele dizer coisas que tinha visto e ouvido. O seu discurso durou dez minutos. A platéia ficou muito atenta durante as lições ensinadas pelo senhorzinho.
“Na infância minha mãe era minha rainha e meu pai era meu rei. Até hoje sinto saudades deles. Sinto o cheiro do bolo de fubá que mamãe fazia e do café quentinho que ela preparava nos finais de tarde. Minha família foi a minha base e permitiu-me construir outra igualmente bela. Família é tudo. Basta perdoar e compreender.
Na minha mocidade o dinheiro era pouco, mas a gratidão sempre foi presente. Eu sou o mais novo de treze irmãos. Enquanto os meus pais e meus irmãos mais velhos envelheciam eu tinha os seus abraços e os seus conselhos amorosos. Bati muito a cabeça. Fui chato e teimoso. Mas aprendi a importância de ter um colo para subir nas dificuldades. A solidariedade é ouro.
Certo dia meu coração bateu mais forte e com Maria casei-me depois de seis meses. Eu tinha vinte e dois anos e ela dezenove anos. Fomos felizes por cinqüenta e um anos, quando um AVC a tirou de mim. Nenhum filho de sangue tivemos, mas três do coração, que hoje são minhas alegrias e que deram-nos netos e netas. O amor quando é incondicional é para fazer os outros felizes.
Trabalhei na lavoura até as forças me abandonarem e desde então sou voluntário nas paróquias deste Brasil, viajo muito. A bondade dos irmãos e irmãs me sustenta. Porém, nada me falta e meus filhos me presenteiam muito. O importante sempre foi chegar até ao final do dia agradecido.
Perdi muitos amigos, amigas, parentes e pedaços de mim, mas sempre aceite. Deus tudo sabe e vai sempre fazer o melhor para mim. Hoje quero continuar vivo, sorrir e ajudar vocês a serem pacientes, a terem serenidade e acreditar que tudo na vida tem a sua hora. A fé é a lupa da Justiça.
Bem, já falei o que vim dizer. Que Deus seja com vocês. A vida não é um quebra-cabeça é um conto ligeiro, que foi escrita para dar certo e para que todos tenham a oportunidade de amar e de ser útil. Com Deus é possível sempre deslizar sobre as maldades, as falsidades e as tristezas. Está escrito na Bíblia que Deus jamais abandona quem a ele procura agradar. Estenda as suas mãos e agarre as Dele. Isso é ser iluminado”.
Os moços e moças aplaudiram fervorosamente o idoso. Então, como de costume curvaram suas cabeças, deram as mãos e rezaram um pai-nosso e uma ave-maria. Quando terminaram o homem sábio já havia ido embora. O padre que o havia trazido disse que ele era tímido e que tinha outro compromisso em outra cidade.
Enfim, o tempo passou e aquele senhor foi exemplo para muitos daqueles jovens, que casaram e foram assumindo as responsabilidades da sociedade. E no final da vida, muitos que ouviram o idoso naquela tarde fria de domingo de agosto, o imitaram e também deram seus testemunhos de vida para outros jovens. O circulo virtuoso foi mantido e muito mais pessoas foram felizes.
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