quarta-feira, 30 de setembro de 2009

CANA-DE-AÇÚCAR


Um dia desses conversando com a minha mãe ouvi novamente histórias que me enche a mente de imaginações. A vida em uma colônia de usina de cana-de-açúcar.

O saudosismo da minha mãe, aliado aos detalhes que ela consegue me fornecer me cativaram, tendo inclusive me feito conhecer uma usina que produz açúcar e álcool.

Segundo a minha mãe os donos da usina e os empregados moravam na mesma área de terra. A colônia dos “patrões” era melhor, mas a dos empregados também era excelente.

Existia um poço para cada duas casas. Ele ficava na divisa das residências. As crianças brincavam nas ruas, em árvores que eram paineiras ou “pés” de jambolão.

Os homens tinham como lazer um pequeno bar onde degustavam bebidas e jogavam “maia” ou ainda podiam disputar uma partida de futebol no belo campo que exista próximo a capela.

Na capela aconteciam as missas, onde se misturavam os “patrões e os demais funcionários”. Todo domingo tinha celebração religiosa.

Existia uma sirene que apitava no horário de entrada e de saída dos funcionários. Apitava também quando alguém morria. No momento em que o “pessoal do escritório” ficava sabendo da morte de um "membro" da colônia a sirene era soada brevemente. Todos ficavam curiosos para saber quem havia falecido.

Fico imaginando a vida despreocupada que devia ser para as crianças, quanta liberdade existia! Nada de aulas de inglês, balé e música após as aulas de ensino fundamental. Um mundo muito mais arejado.

Dos meus três irmãos apenas um tomou gosto profissional pela “cana-de-açúcar, o César. Fez curso técnico na área, depois se graduou em engenheiro e foi para a lida, onde já está há muito tempo. Ele passou por inúmeras usinas. Dentre elas a Usina Santa Bárbara, que hoje se encontra desativada e abriga diversas festas, sendo um patrimônio municipal histórico e tombado.

Quando este meu irmão trabalhou na Usina Iracema, que fica na cidade de Iracemápolis eu fui visitá-la. Gostei muito.

A tecnologia e os avanços sociais, bem como a demanda mundial fez com que as usinas deixassem de ser “familiar”. Atualmente a maioria delas se profissionalizou, os diretores e gerentes são contratados e não mais o filho do dono, salvo quando estes tenham qualificações.

As colônias também desapareceram e as que ainda existem não são imagens nem próximas daquela que minha mãe morou.

Infelizmente muitos jovens nem sabem a história da cana-de-açúcar nem o potencial empregatício das usinas. A cana-de-açúcar se mistura com a história dos nossos antepassados. Por isso vamos conhecer um pouco mais dela. Acessem o site http://www.sacaroseonline.com.br/ e divulguem, estaremos fazendo um bem para nossa história.

Quanto à vida nas colônias fica apenas nas fotografias pintadas em telas com tinta a óleo ou naquelas em branco e preto. Embora na memória da minha velha mãe a colônia ainda tenha muita luz, cor e até mesmo cheiro.

Minha mãe viveu naquela colônia os melhores anos da sua infância. Infelizmente meu avô faleceu ainda moço. Minha mãe tinha onze anos. Mesmo sem pai ela teve uma excelente mãe que a ensinou sobre os grandes valores da vida. Por isso ela conseguiu ser e ainda é, para mim e para os meus irmãos, a melhor mãe do mundo. Ainda hoje, quando nos referimos a ela em conversas entre (nós) irmãos a tratamos por mamãe.

Minha mãe narrou estas histórias sem nostalgia, mas com a graça de uma pessoa madura transmitindo experiência.

Acredito em tudo o que ela contou e que a vida na colônia era ótima. Que saudades de uma terra que nunca pisei. Viva a cana-de-açúcar. Acessem http://www.sacaroseonline.com.br/!

6 comentários:

  1. Eliel, obrigado pela lembrança, realmente fez com que eu voltasse no tempo.
    Sabia que, como sou bem mais velho que vc, cheguei a ver a usina onde a mamãe nasceu moendo?
    Cerca de meia década antes de vc nascer.
    Além de bem escrito, legal vc lembrar de quando fizemos aquele tour pela Usina Iracema. Lembra que teve problema num mancal da moenda e não pude acompanhá-lo na visita?
    Aquele dia foi trabalhoso, mas safra é assim mesmo.
    Segui seu conselho e estou tentando escrever também, talvez não tenha o seu brilhantismo, mas tenho bastante história para contar.
    Sorte que eu sou azarado e td acontece comigo.
    Ah, os causos estão em www.sacaroseonline.com.br
    é só clicar em papo de usina.

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  2. Nelson Souza2/10/09 17:43

    Nasci em usina tambêm! Lá no interior pernambucano, pense "num negoço arretado", todos com um mesmo projeto: "Quando eu crescer vou trabalhar na Usina, o dono já falou pro meu pai". O contato com o dono era comum e as promessas eram ditas em ocasiões como nas missas de domingo, o patrão com o coração quebrantado... É maravilhoso lembrar desta época. As sirenes anunciando o início da safra, isto ocorria no mês de agosto/setembro, e ficávamos na expectativa, de madrugada ou altas horas da noite. Vibrávamos de alegria ao ouvir o barulho das descargas de vapor, olhar o movimento de caminhões carregados de cana, o movimento dos trabalhadores rurais cantando as loas logo cedo no corte de cana, aquele cheiro de mel, cana queimada, vinhaça... Tudo lembra os bons tempos das Usinas de açúcar...
    Iniciei minha vida profissional aos 15 anos, trabalhando no laboratório PCTS. Logo tive a oportunidade de ir trabalhar como auxiliar de desenhista, todos diziam que era porque meu pai trabalhava na “CASA GRANDE”. Bom! Aproveitei a oportunidade e hoje depois de 20 anos continuo no ramo sou coordenador de projetos residindo no estado de São Paulo. E com muitas saudades dos apitos, festivais de encerramentos de safra, e daquele convívio humanizado entre patrões e empregados.

    Nelson Souza

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  3. Alessandra2/10/09 18:34

    Bom eu não nasci em usinas, ao contrário, nasci na capital paulista, mas aos 14 anos conheci uma pessoa que imediatamente passou a ser muito importante em minha vida, sendo de namorado, esposo, pai dos meus filhos e o amor da minha vida...costumo dizer que nosso amor é além da vida! César, o mesmo que o escritor do blog se refere.
    Pessoa essa que apresentou-me a vida em usina, sempre narrada com muito entusiasmo, o tempo passou, e suas histórias ainda podem ser conferidas por todos, inclusive quem ainda não as conhecem.
    Basta acessar www.sacaroseonline.com.br e iniciar uma verdadeira viagem ao tempo e ao futuro. Boa Leitura!
    Eliel, vc é genial! parabéns por seu talento, e pela pessoa especial que és.
    Alessandra

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  4. Alessandro disse...
    ...Parabéns pela bela narrativa que nos leva a tempos saudosistas que infelizmente não vivemos mas temos o imenso prazer de ter essa pessoa mais que especial ao nosso lado para contar as suas histórias que renovam sempre a nossa esperança e nos dá força sempre. Ela é um anjo que nos trouxe a vida e nos ensinou tudo o que é preciso para vencer na vida e ser uma boa pessoa mas eu sou suspeito em falar pois a amo tanto quanto vc. Você foi muito feliz em suas palavras e é um orgulho ter você como irmão.

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  5. Boa noite, fiquei muito feliz com os comentários que recebi.

    César, você é o primogênto de uma família que o dinheiro era escasso, mas sempre foi rica em amor. Levamos este ensinamentos no coração e nas condutas.

    Nelson Souza, as tuas palavras corroboram as minha. Muito obrigado pelo comentário e apareça sempre.

    Alessandra, muito obrigado pelas palavras de carinho, saiba que sei dos teus esforços e te admiro bastante.

    Alessandro, meu irmão mais próximo em idade. Um idealista. Realmente as tuas sábias palavras tocam no saudosismo que eu acredito que seja essencial para viver a vida. Também é um orgulho ter vc como irmão.

    A todos vocês o meu abraço e o meu carinho.

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  6. De pano de fundo diferente, mas com a mesma essência, as memórias são peculiares a mim. Fatos de uma infância sem excessos materiais mas com muita dignidade, amor e diversão.
    Bela narrativa! Abraço,

    Alessandro Maschio (amigo do César Miranda)

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Obrigado. Fica com Deus.