domingo, 27 de dezembro de 2009

Palavras desconexas 3


Sou como um gigante que tendo altura se recusa a pegar o que está no alto, como o rio que podendo correr prefere o deslizamento, como a águia que estando no céu prefere o chão, como o coelho que podendo correr prefere o trote, como a chuva que podendo ser pacífica caiu em pedras.

Poucas coisas se tornarão a vir depois de terem partido. O coração nunca se dividiu, nenhumas das suas veias foram abaladas, pouco se viu do estrago pelo caminho, mas o que está por cima se achou sozinho. Seus ocupantes partiram.

Eu sei e você mais ainda que muitos dos machucados foram feitos por curiosidades. Tudo o que está debaixo do zinco está sujeito as tempestades. Todavia o caminho voltará a ser límpido quando o lixo for somado ao puro e tudo se tornar lindo por terem as coisas se transformados em verdadeiras obras de arte.

Descansados estão os meus pés e mais ainda estão em paz as minhas mãos. Embalar o teu sono seria um privilégio se eu pudesse fazer para sempre. Embora tudo o que é para sempre se torne enfadonho, monótono e cíclico, tal como o rodar de um brinquedo velho e sujo de um ignóbil parque infantil.

Tudo é velho e de perto desmorona, mas pior do que o receio da finitude é a invisibilidade do que nunca esteve a vista, mas que sempre existiu.

Indica-me qual é o chão e nele me encontraras, ainda que muito tempo se passe do dia em que tornaste da casa do teu pai e chorando te lançastes em meus braços e entre soluços prometeste a fidelidade e a retidão moral.

Se no final és tudo prazeroso o meio e o início não poderão ser diferentes. Enxerga o que vai adiante, mas lembre-se que tudo o que vês foi construído com a paciência da sabedoria que entra em anos para tornar a remoçar quando já esta próxima da velhice.

Caso eu consiga entender do que as minhas reminiscências são feitas adotaria um asilo, levaria pão-de-ló ou fubá. Aqueceria com minhas lenhas os quartos e afagarias com as minhas mãos suas vaidades enegrecidas e enregeladas pelo descaso da falta de uso.

Meditareis em tuas palavras. Talvez entoarei um mantra. Porém jamais adentrarei nos labirintos que são tuas vãs palavras, que me corroem, me tornando frio e distante das boas idéias.

Segue os ratos, deixe as aranhas, aprecie o gafanhoto e as demais coisas pequenas, mas tira a maior lição do palpável e sofrido mundo daqueles que nunca existiram, mas que sempre foram mais reais do que todas as suas dores somadas.

Tuas juntas, teus calos e vossas agonias são descartáveis diante de tudo o que achas guardado para ti, mas que não serão utilizadas até implorares com tuas atitudes bestas e sem sentido.

Parto com a graça, se não me achares é porque não me procuraste direito. Velarei, mas não me importunes, pois desejo dar-te somente aquilo que me farás trazer o sorriso. Já é tarde, me atrasei mesmos assim te deixo um breve, fino e frio adeus.

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