Suas mãos estavam frias. Ela fez a mira e enquanto seu marido dormia desfechou contra ele seis tiros. Errou só um.
Arlete era uma adolescente quando Cleiton a conheceu. Ela era atendente numa floricultura e ele era representante comercial da empresa de cerâmica dos seus pais.
Cleiton era rico, seus pais, bem como a família de sua esposa tinham muitas posses. Ele tinha uma filhinha de cinco anos quando se apaixonou por Arlete.
No começo a adolescente relutou em se relacionar com Cleiton, mas como ele toda semana tinha que ir a loja em que ela trabalhava e sempre lhe fazia mimos ela cedeu e por ele também se apaixonou.
Levaram a vida daquela maneira por cinco anos. Encontravam-se quase todos os dias e sempre viajavam juntos. Os pais de Arlete condenavam o relacionamento.
Cleiton permanecia em casa fazendo às vezes de um bom marido, mas estava muito "longe" da sua esposa. Toda semana inventava compromissos.
Numa noite de muito amor Cleiton e Arlete resolveram assumir o relacionamento e irem morar juntos. Ela tinha vinte e um anos e ele já tinha trinta e dois.
No outro dia ele procurou a esposa confessou a sua infidelidade. Ela ficou atônita, mas aceitou e permitiu que ele partisse sem pedir outra coisa. Juntos conversaram com a filha, que já tinha dez anos. A criança nem chorou, apenas deu de ombros e com uma expressão triste disse que estava tudo bem.
A mulher e a filha não passariam dificuldades financeiras, porque dispunham de bons rendimentos oriundos dos muitos investimentos familiares. Cleiton sentiu o seu coração apertar. Naquele instante imaginou se não estaria fazendo uma grande besteira, mas já era tarde para retroceder. Além do mais ele era muito orgulhoso.
Permaneceu na sua casa ainda por mais três semanas. Dormia no quarto dos hóspedes. A mulher e a filha evitavam contato, apenas o cumprimentavam polidamente. Começou a sentir uma grande tristeza. Sentiu indiferença e começou a fantasiar que a mulher também deveria ter um amante.
Porém, quando começou a procurar um apartamento para morar com Arlete seu ânimo melhorou. Em menos de um mês foi morar com a nova esposa num belo apartamento. Comprou toda mobília.
Enfim, pensou que retomaria a sua vida. Grande engano. Ele tinha costume de ler e assistir jornais depois do jantar. Arlete com isso se irritava. Logo vieram as brigas. Ela era imatura e ele por vezes tinha que fazer o papel de "pai". Ela não se preocupava com nada em casa. Ele contratou uma empregada e uma cozinheira, que ia embora depois de fazer o jantar.
Arlete só queria uma "boa vida". Fazia academia, compras e mais compras. Gastava muito. Toda semana ia para o cinema e almoçava em restaurantes com amigas. Pagava tudo com o cartão de crédito de Cleiton. Decidiu que nunca mais trabalharia, nem desejava estudar. Começou a se interessar por outros homens.
Cleiton envelhecia, sentia-se triste. A filha não gostava de sua companhia, a magoa da menina não ia embora. Ao seu lado ela não sorria. Até parecia que o simples toque do pai a fazia sentir calafrios.
Arlete começou a sair com um professor da academia. Logo saiu também com muitos dos seus colegas de malhação. Saiu também com um vizinho e com vários homens que conheceu na rua. Fazia questão de presentear todos com cuecas, que comprava no cartão de crédito do marido.
A noite fazia o mínimo com Cleiton. Dizia que não queria filhos. Ele sentia o desprezo da mulher e suspeitava da sua infidelidade. Decidiu que era hora de acabar com aquele sofrimento.
Fazia dez anos que largara da esposa e estava definitivamente com Arlete. Descobriu que nunca chegou a amá-la. Havia sido tudo um grande erro. Sentiu saudades dos seus momentos com a filha e a mulher, que já estava casada outra vez e com mais dois filhos. Descobriu que no jogo do amor só ele perdera.
Na manhã de um sábado falou para Arlete que precisavam conversar sobre um assunto sério. Ela pensou: “acho que ele descobriu alguma coisa, vou negar tudo”.
Começou fazendo um retrospecto sobre suas histórias, disse que não sentia mais nada por ela e acabou dizendo que iria embora. Que daria vinte mil reais para ela, como ajuda, pois nenhum bem haviam adquirido naqueles dez anos de convivência. Ela ficou boquiaberta “o corno e fonte do seu dinheiro queria ir embora?”.
Então ela chorou e no desespero disse que o amava muito e que sempre quisera ser boa para ele. Implorou por mais uma chance. Como ele estava decidido manteve-se firme. Disse que iria dormir no quarto de hóspedes e que assim que encontrasse uma casa iria alugar e iria embora.
Nesse momento, da humildade ela passou ao inconformismo violento, o acusou de traição, de ser hipócrita e tentou o agredir com objetos. Aos pouco ela se acalmou e pediu para ele, outra vez, mais uma chance. Ele negou.
A conversa acabara. Ele saiu. Precisava respirar um pouco de ar puro. Ela também saiu. Ele foi para um parque da cidade. Precisava pensar. Ela foi atrás de uma arma de fogo. Decidiu que se ele quisesse fazer com ela como fizera com sua ex-esposa ele não viveria nem um dia de liberdade. Estava transtornada e mostrava uma psicopatia até então encoberta.
Sentado naquele banco, perto da lagoa ele chorou. Passando as mãos no cabelo ele relembrou o passado. Como era engraçado, pois agora os tempos com a ex-mulher e com a filha lhe pareciam inefáveis.
Pensou que talvez fosse melhor se matar. Sua dor iria embora junto com a sua existência. Ele já passara dos quarenta anos. A filha estava na faculdade, fazia Direto e o ignorava completamente. A sua ex-esposa quando cruzava com ele o cumprimentava sem mágoa. Isso doía mais do que o descaso.
Arlete se lembrou de um ex-amante, um comerciante, que tinha como hobby ser atirador. Lembrou que ele tinha em seu escritório uma arma guardada. Ele se gabava de poder manter a arma em seu comércio. Foi até o seu estabelecimento. Sabia onde ele guardava, pois um dia enquanto fazia sexo oral com ele havia visto a arma presa num suporte embaixo da tampa da sua mesa.
Chegou ao estabelecimento. Ele estava quase fechando, pois aos sábados os comércios fechavam às duas da tarde. O local ainda estava com muitos clientes. Quando ele a viu seus olhos se iluminaram. Oi, disse ele, quanto tempo. Ela foi cordial e disse que precisava conversar com ele em particular. Ele sorriu e disse para ela esperar ele no seu escritório. Era tudo o que ela queria.
As coisas se encaixavam, até parecia que alguém lhe mostrava o caminho para seguir. Ele a conduziu e destrancou a porta para lhe franquear a entrada. Ela docemente entrou. Na hora que se viu sozinha abaixou, pegou a arma embaixo da mesa e a guardou na bolsa. Imediatamente se esgueirou pela porta e foi embora.
Cleiton voltou para casa e ela já estava lá. Foi direto para o seu quarto. Invadido por uma desânimo deitou e procurou dormir.
Passado um tempo Arlete foi até o quarto e viu que ele dormia. Voltou para a sala pegou o revólver e entrou novamentenos no aposento, parou a uma distância de um braço do marido e começou a apertar o gatilho até quando as munições acabaram ela continuou a apertar o gatilho e escutar o som mecânico do "cão" batendo seco contra o estojo das munições, agora vazias.
Quando a polícia entrou no apartamento, chamada pelos vizinhos, ela ainda estava fazendo este gesto.
Arlete foi levada para a cadeia. Cleiton foi levado para o cemitério. A história dos dois que não deveria nem ter começado, acabava sem chances de uma reconciliação nesta vida.
O velório foi com o caixão lacrado. Sobre o caixão havia uma foto de Cleiton sorrindo. Fora tirada há muito tempo numa praia. Muitas pessoas compareceram, inclusive a ex-mulher e a filha.
No instante em que o seu corpo era entregue a terra a filha começo a chorar baixinho. Só recordava do pai, ao lado da mãe, dizendo que iria embora de casa, mas não da sua vida. Agora, sim, ele iria também embora da sua vida. Achou que ia ser melhor assim. Com estes pensamentos jogou sobre o caixão uma rosa vermelha que trazia na mão e disse em alto e bom som: “Pai, descanse em paz”.
Arlete era uma adolescente quando Cleiton a conheceu. Ela era atendente numa floricultura e ele era representante comercial da empresa de cerâmica dos seus pais.
Cleiton era rico, seus pais, bem como a família de sua esposa tinham muitas posses. Ele tinha uma filhinha de cinco anos quando se apaixonou por Arlete.
No começo a adolescente relutou em se relacionar com Cleiton, mas como ele toda semana tinha que ir a loja em que ela trabalhava e sempre lhe fazia mimos ela cedeu e por ele também se apaixonou.
Levaram a vida daquela maneira por cinco anos. Encontravam-se quase todos os dias e sempre viajavam juntos. Os pais de Arlete condenavam o relacionamento.
Cleiton permanecia em casa fazendo às vezes de um bom marido, mas estava muito "longe" da sua esposa. Toda semana inventava compromissos.
Numa noite de muito amor Cleiton e Arlete resolveram assumir o relacionamento e irem morar juntos. Ela tinha vinte e um anos e ele já tinha trinta e dois.
No outro dia ele procurou a esposa confessou a sua infidelidade. Ela ficou atônita, mas aceitou e permitiu que ele partisse sem pedir outra coisa. Juntos conversaram com a filha, que já tinha dez anos. A criança nem chorou, apenas deu de ombros e com uma expressão triste disse que estava tudo bem.
A mulher e a filha não passariam dificuldades financeiras, porque dispunham de bons rendimentos oriundos dos muitos investimentos familiares. Cleiton sentiu o seu coração apertar. Naquele instante imaginou se não estaria fazendo uma grande besteira, mas já era tarde para retroceder. Além do mais ele era muito orgulhoso.
Permaneceu na sua casa ainda por mais três semanas. Dormia no quarto dos hóspedes. A mulher e a filha evitavam contato, apenas o cumprimentavam polidamente. Começou a sentir uma grande tristeza. Sentiu indiferença e começou a fantasiar que a mulher também deveria ter um amante.
Porém, quando começou a procurar um apartamento para morar com Arlete seu ânimo melhorou. Em menos de um mês foi morar com a nova esposa num belo apartamento. Comprou toda mobília.
Enfim, pensou que retomaria a sua vida. Grande engano. Ele tinha costume de ler e assistir jornais depois do jantar. Arlete com isso se irritava. Logo vieram as brigas. Ela era imatura e ele por vezes tinha que fazer o papel de "pai". Ela não se preocupava com nada em casa. Ele contratou uma empregada e uma cozinheira, que ia embora depois de fazer o jantar.
Arlete só queria uma "boa vida". Fazia academia, compras e mais compras. Gastava muito. Toda semana ia para o cinema e almoçava em restaurantes com amigas. Pagava tudo com o cartão de crédito de Cleiton. Decidiu que nunca mais trabalharia, nem desejava estudar. Começou a se interessar por outros homens.
Cleiton envelhecia, sentia-se triste. A filha não gostava de sua companhia, a magoa da menina não ia embora. Ao seu lado ela não sorria. Até parecia que o simples toque do pai a fazia sentir calafrios.
Arlete começou a sair com um professor da academia. Logo saiu também com muitos dos seus colegas de malhação. Saiu também com um vizinho e com vários homens que conheceu na rua. Fazia questão de presentear todos com cuecas, que comprava no cartão de crédito do marido.
A noite fazia o mínimo com Cleiton. Dizia que não queria filhos. Ele sentia o desprezo da mulher e suspeitava da sua infidelidade. Decidiu que era hora de acabar com aquele sofrimento.
Fazia dez anos que largara da esposa e estava definitivamente com Arlete. Descobriu que nunca chegou a amá-la. Havia sido tudo um grande erro. Sentiu saudades dos seus momentos com a filha e a mulher, que já estava casada outra vez e com mais dois filhos. Descobriu que no jogo do amor só ele perdera.
Na manhã de um sábado falou para Arlete que precisavam conversar sobre um assunto sério. Ela pensou: “acho que ele descobriu alguma coisa, vou negar tudo”.
Começou fazendo um retrospecto sobre suas histórias, disse que não sentia mais nada por ela e acabou dizendo que iria embora. Que daria vinte mil reais para ela, como ajuda, pois nenhum bem haviam adquirido naqueles dez anos de convivência. Ela ficou boquiaberta “o corno e fonte do seu dinheiro queria ir embora?”.
Então ela chorou e no desespero disse que o amava muito e que sempre quisera ser boa para ele. Implorou por mais uma chance. Como ele estava decidido manteve-se firme. Disse que iria dormir no quarto de hóspedes e que assim que encontrasse uma casa iria alugar e iria embora.
Nesse momento, da humildade ela passou ao inconformismo violento, o acusou de traição, de ser hipócrita e tentou o agredir com objetos. Aos pouco ela se acalmou e pediu para ele, outra vez, mais uma chance. Ele negou.
A conversa acabara. Ele saiu. Precisava respirar um pouco de ar puro. Ela também saiu. Ele foi para um parque da cidade. Precisava pensar. Ela foi atrás de uma arma de fogo. Decidiu que se ele quisesse fazer com ela como fizera com sua ex-esposa ele não viveria nem um dia de liberdade. Estava transtornada e mostrava uma psicopatia até então encoberta.
Sentado naquele banco, perto da lagoa ele chorou. Passando as mãos no cabelo ele relembrou o passado. Como era engraçado, pois agora os tempos com a ex-mulher e com a filha lhe pareciam inefáveis.
Pensou que talvez fosse melhor se matar. Sua dor iria embora junto com a sua existência. Ele já passara dos quarenta anos. A filha estava na faculdade, fazia Direto e o ignorava completamente. A sua ex-esposa quando cruzava com ele o cumprimentava sem mágoa. Isso doía mais do que o descaso.
Arlete se lembrou de um ex-amante, um comerciante, que tinha como hobby ser atirador. Lembrou que ele tinha em seu escritório uma arma guardada. Ele se gabava de poder manter a arma em seu comércio. Foi até o seu estabelecimento. Sabia onde ele guardava, pois um dia enquanto fazia sexo oral com ele havia visto a arma presa num suporte embaixo da tampa da sua mesa.
Chegou ao estabelecimento. Ele estava quase fechando, pois aos sábados os comércios fechavam às duas da tarde. O local ainda estava com muitos clientes. Quando ele a viu seus olhos se iluminaram. Oi, disse ele, quanto tempo. Ela foi cordial e disse que precisava conversar com ele em particular. Ele sorriu e disse para ela esperar ele no seu escritório. Era tudo o que ela queria.
As coisas se encaixavam, até parecia que alguém lhe mostrava o caminho para seguir. Ele a conduziu e destrancou a porta para lhe franquear a entrada. Ela docemente entrou. Na hora que se viu sozinha abaixou, pegou a arma embaixo da mesa e a guardou na bolsa. Imediatamente se esgueirou pela porta e foi embora.
Cleiton voltou para casa e ela já estava lá. Foi direto para o seu quarto. Invadido por uma desânimo deitou e procurou dormir.
Passado um tempo Arlete foi até o quarto e viu que ele dormia. Voltou para a sala pegou o revólver e entrou novamentenos no aposento, parou a uma distância de um braço do marido e começou a apertar o gatilho até quando as munições acabaram ela continuou a apertar o gatilho e escutar o som mecânico do "cão" batendo seco contra o estojo das munições, agora vazias.
Quando a polícia entrou no apartamento, chamada pelos vizinhos, ela ainda estava fazendo este gesto.
Arlete foi levada para a cadeia. Cleiton foi levado para o cemitério. A história dos dois que não deveria nem ter começado, acabava sem chances de uma reconciliação nesta vida.
O velório foi com o caixão lacrado. Sobre o caixão havia uma foto de Cleiton sorrindo. Fora tirada há muito tempo numa praia. Muitas pessoas compareceram, inclusive a ex-mulher e a filha.
No instante em que o seu corpo era entregue a terra a filha começo a chorar baixinho. Só recordava do pai, ao lado da mãe, dizendo que iria embora de casa, mas não da sua vida. Agora, sim, ele iria também embora da sua vida. Achou que ia ser melhor assim. Com estes pensamentos jogou sobre o caixão uma rosa vermelha que trazia na mão e disse em alto e bom som: “Pai, descanse em paz”.
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