terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Promessas para uma existência que não existe mais.



Papai e Mamãe.


Eu poderia acordar e dormir toda as noites com os senhores.


Entretanto, eu não suportaria o dia, muito menos o cheiro deste lugar.


Vou para aonde o vento me levar.


Por favor, não chorem.


Os senhores sabiam que eu era para a vida.


Mandarei cartas. Mandarei lembranças.


Por mais que as léguas nos coloquem longe eu os guardarei nas minhas lembranças.


Mamãe, algum dia frio, um cheiro me fará lembrar da senhora.


Em alguma esquina, papai, um cabelo grisalho, me assaltará a memória.


Agora eu não choro. Sinto apenas uma ansiedade desconhecida.


Preferi escrever a carta a me despedir pessoalmente.


Sei que de outra maneira haveria mais dores.


Agradeço a educação que me deram. Os estudos que pagaram.


Tenho vinte anos e já sei o que eu quero da minha vida.


A vida foi ingrata com a nossa família, pois me colocou como filho único.


Ainda bem que os senhores tem os afazeres do campo. Nossos animais.


Bem, guardem esta carta, já que direi algo que nunca consegui dizer.


Amo os senhores. Porém farei tudo diferente do que fizeram.


Casarei e terei mais que dois filhos. Assim dividirei a carga das expectativas.


Também não deitarei maldições nem palavrões na minha prole. Serei amigo.


Papai, te perdôo, mas não surrarei os meus filhos por nada.


Mamãe, terei mais paciência e mais tempo para olhar nos olhos dos meus filhos.


Meus filhos terão roupas e brinquedos decentes.


Apenas uma pequena parte do meu dinheiro irá para o banco.


Antes que eu me esqueça, quero prometer que um dia voltarei para estas terras.


Caso eu não os encontre mais nesta vida, desejo lhes que a terra lhes seja leve.


Adeus.








2 comentários:

Obrigado. Fica com Deus.