quarta-feira, 10 de março de 2010

Ele morreu porque era surdo



Gervásio viveu trinta e dois anos na absoluta quietude. Surdo e mudo de nascença ele frequentou as melhores escolas para pessoas portadoras de necessidades especiais.



Graduou-se em Administração e graças a lei que obriga as empresas a contratarem pessoas com deficiências não teve dificuldades para conseguir um emprego em uma empresa de grande porte.



Gervásio era casado e tinha uma filha, Natália, a qual ele jamais ouviu dizer os papas e mamas das crianças desta idade. Porém, ele se emocionava com o sorriso da pequena, com seus beijos molhados e com seus abraços infantis.



No último dia de fevereiro deste ano, Gervásio foi até um shopping da sua cidade, que estava lotado de carros e observou que tinha uma vaga que ficaria disponível em poucos segundos, pois havia um carro saindo, logo fez a manobra e parou o seu veículo, trancou as portas e virou as costas, deu uns dez passos e sentiu um calor nas suas costas, uma dor percorreu sua espinha, suas vistas se escureceram e ele morreu, longe da Natália, a quem iria presentear, caso tivesse conseguido entrar no shopping, pois naquele dia a menininha fazia o segundo aniversário.



O assassino foi preso logo em seguida. Seu nome é João, um ex-militar com problemas psiquiátricos. Ele confessou ter matado Gervásio a tiros porque este havia roubado sua vaga no estacionamento do shopping. Explicou que aguardava o veículo que ocupava a vaga sair para ele estacionar quando Gervásio tomo lhe a vaga sem mais nem menos. Disse, ainda, que gritou com Gervásio, mas que este o ignorou virando as costas e saindo.



Após contarem para João que Gervásio era surdo e que no dia da sua morte sua filhinha estava fazendo dois anos de idade João chorou e naquela noite cometeu suicídio utilizando um pedaço de ferro, passado gentilmente por outros detentos, para ele cortar os pulsos.

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