sábado, 6 de março de 2010

Uno! Nono dia










Caso as narrativas sobre o campeonato de Uno fossem uma epopéia, uma ilíada ou tão somente um auto, talvez fossem escritas em versos, mas elas não se encaixam em nenhum gênero literário consagrado, por isso continuo escrevendo como se estivéssemos num bate-papo, numa lanchonete qualquer, de uma esquina sem tanta badalação, de um bairro esquecido ou pouco lembrado de uma cidade interiorana, de um dos tantos Estados brasileiros.

Em um dos filmes do Dr. Hannibal, talvez no Silêncio dos inocentes, o Dr. Lecter diz que a cobiça vem do ver e do ver todos os dias. Logo, acabo acreditando que a cobiça dos competidores do Uno pelo cofre do campeonato é por vê-lo sempre. Todos somos unânimes, quem ganhar o cofre terá sua vida alterada para sempre.

Caso a Giovanna ganhasse o campeonato ela poderia, se quisesse, ir conhecer os atores do seriado Izatkm. Ela com certeza compraria uma fabrica da coca-cola e faria amizade pelo mundo, bem cedo ganharia o Nobel de física.

Com a inteligência potencializada, com seu pensamento lógico, acabaria sendo comparada com Albert Einstein, fato intrigante seria uma fotografia que talvez fosse tirada dela com a língua a mostra. Ela publicaria centenas de livros técnicos.

Giovanna acabaria por ser contratada pelo Pentágono, com sua ajuda seriam desenvolvidos protótipos de naves espaciais como se fossem residências e seria viabilizada a vida em Marte. Ela seria a primeira a se mudar para Marte, seria conhecida como a Eva de Marte e jamais seria esquecida.

O Alessandro, se fosse o ganhador, ainda conseguiria ser jogador de futebol, com certeza seria campeão da Libertadores e do mundo com o Corinthians, no ano que vem é claro, porque este ano é do São Paulo outra vez.

É óbvio que seria um milagre, o nome dele viraria lenda, muitos anos depois da sua morte o Vaticano “viria” ao Brasil observar sua história para a canonização. O parque São Jorge iria mudar de nome, o nome de Alessandro iria figurar nos selos e no próprio hino do clube.

Ele terminaria a faculdade com honras e méritos. Seria empresário e lançaria uma cantora para o mundo. Ficaria para sempre em paz.

Bem, se fosse a Dani, a subir no mais alto lugar do pódio, teríamos no dia seguinte a imprensa do mundo inteiro na cidade de Americana. A policial federal seria requisitada e a sua entrevista coletiva seria a mais concorrida dos últimos milênios. Entre as pessoas presentes muitos tietes famosos, como Beyonce, Ivete Sangalo, Roberto Carlos, Shakira, Brad Pitt e Angelina Jolie etc.

O mundo testemunharia o nascer de um talento incomparável, com certeza se confirmaria uma das muitas profecias de Nostradamus. As editoras lutariam para escreverem a biografia da Dani Morena e muitos escritores consagrados desejariam serem os escolhidos para narrarem uma trajetória emocionante.

Por final ela seria um padrão de comparação, ganharia fãs no mundo todo e talvez algum dia, não muito distante, um disco voador pousaria na terra ao som de Dani Morena. A história da música seria dividida em A.D e D.D, antes da Dani e depois da Dani. Muitos conservatórios, inclusive o da cidade de Tatuí, onde a cantora teria sido aluna, seriam rebatizados com seu nome.

Agora, se o campeão fosse o Carlos, o mundo ganharia um cientista. Em primeiro lugar ele ditaria tendências. Todos os pais retirariam seus filhos das escolas, a educação deixaria de ser formal, para ser informal. Ele rapidamente se transformaria em bilionário, contrataria pessoas para se responsabilizar por seus investimentos e passaria a dar palestras, daquelas que ele tanto gostava de assistir.

O nome de Carlos seria sinônimo de sucesso absoluto. Ele passaria a desenvolver métodos, máquinas, teorias e as mais diversas possibilidades para que o mundo fosse melhor. Tenho certeza que até o seu projeto de foguete, há tempos esquecido, voltaria à pauta e ele se tornaria conhecido em todos os segmentos. Seria um dos primeiros brasileiro a residir no espaço sideral, a fim de refletir sobre a praticidade.

Por fim, em menos de uma década ele teria viajado e conhecido o mundo inteiro. O seu sorriso fácil seria para sempre lembrado em todas as nações, talvez até surgissem lendas sobre a sua idade, pois muitos acreditariam que ele tivesse descoberto a imortalidade e a fonte do rejuvenescimento, ainda ganharia, como homenagem, um busto na cidade de Brasília.

Porém, se a Yzadora faturasse o prêmio e o primeiro lugar absoluto do importante campeonato, se tornaria uma artista mirim das mais conceituadas. O seu jeito meigo conquistaria as multidões, se tornaria atriz e até pode ser que fizesse parte dos últimos capítulos de Viver a Vida.

Na escola seria a mais conhecida e todos viriam lhe pedir autógrafos. Ela seria contratada para fazer comerciais, mas a maior briga seria entre as empresas de xampu, pois todas iriam querer esta estrela mirim para vender suas marcas. Quando adulta, Izadora, seria uma modelo das mais bem pagas, todos os seus sonhos e desejos seriam ordens e as pessoas a venerariam como autoridade nos assuntos de moda, arte, cinema e televisão. É claro que Hollywood também teria o prazer de tê-la como protagonista de diversos filmes. No final da vida se tornaria professora e ganharia um assento especial na Academia Brasileira de Letras, onde se tornaria uma imortal.

A Marina se ganhasse o título de campeã do UNO no outro dia se tornaria empresária do ramo de presentes. Seria bilionária antes do primeiro ano, seu nome viraria grife; “Marina Artes”. Sua arte seria reconhecida no mundo. Ela ditaria as regras da educação artística. As escolas ensinariam sobre quem foi Marina e sua história. Suas possibilidades cruzariam os oceanos e muitos acreditariam que ela teria descoberto alguma técnica milenar escondida em algum canto do planeta, pois desenvolveria protótipos de arte baseando-se em cromoterapia. Acalmaria muitos depressivos.

Ela, como sendo fã da música e da dança percorreria as cidades mais famosas do mundo e muitas das danças que ela encenou seriam exclusivamente para ela encenadas. Ela, ainda, regressaria a terra dos seus antepassados e visitaria a história que lhe foi contada desde criança, levaria para tal viagem os pais e até os vejo emocionado sobre a bandeira dos confederados. O cemitério do campo ganharia verba para uma senhora reforma.

Finalmente, ela criaria uma ONG, a fim de ajudar os pobres e necessitados e lá seria feliz ajudando o próximo. Em todos os seus aniversários haveria uma festa, mas diferente das festas tradicionais seus convidados seriam desconhecidos e em cada ano em um lugar diferente, com pessoas que precisassem de ajuda, com este gesto ela saberia que naquele dia famintos encontrariam um pouco de alegria, um acalento e suas barrigas ficariam mais satisfeitas. Seguiria feliz e conhecida no mundo todo. O seu rosto seria imortalizado num quadro pintado por um importante francês, tal obra seria exposta no Louvre.

O Valdecir segue eliminado, daí não ser possível dimensionar o impacto que teria na sua vida a conquista deste prêmio. O certo é que ele adora a lua e dormir. Talvez uma das suas primeiras providências fosse passear pelo mar, num dos seus novos iates, à noite, para observar a Jaci dos índios.

A Janaína, caso fosse à vencedora, gastaria um milhão de reais em ações na bolsa de valores. Em três dias seria a primeira trilionária a alcançar a cifra tão rápido e somente com ações chamadas de risco. Seu caso ganharia os principais jornais do mundo e mesmo sem formação específica na área se tornaria economista de fato e reconhecida, em título concedido pelo doutores de Havard. Por um mês daria palestra em diversas universidades relatando seu feito. Ela doaria os cachês destas palestras para instituições de caridade.

Depois de transcorrido um mês ela embarcaria num cruzeiro exclusivo pela costa brasileira, com mais umas duzentas pessoas, entre parentes e amigos. Nunca mais o mundo teria notícias suas através dos jornais, apenas seus familiares saberiam do seu paradeiro. Ela viajaria o mundo e viveria quase duzentos anos, conheceria todas as praias, museus e entretenimentos. Segundo uma lenda que surgiria, teria gastado meio milhão em Las Vegas e ganhado mais de um bilhão de dólares, teria segundo testemunhas, quebrado a banca, sem trapacear.

Na sua bolsa guardaria as fotos do campeonato de Uno e também o baralho que a sua família possuía e que por tantas noites insones utilizaram.

Caso a Dona Antônia ganhasse, veríamos no outro dia as mais diversas personalidades desembarcando em um dos heliportos de Americana, a fim de serem consultadas sobre qual seria o melhor corte e penteado para os seus cabelos.

A cidade de Americana cresceria no entorno da casa da Dona Antônia, em pouco tempo ela compraria o bairro todo e ele se transformaria em um condomínio exclusivo da nova bilionária.

A rede globo depois de incansáveis tentativas contrataria Dona Antônia como diretora de maquiagem, penteado e afins. Seu salário seria de meio milhão por mês para dar sugestões pela internet em sessões de vídeo conferência. Ela teria uma imensa rede de profissionais sob suas ordens e diretrizes. Após surgir a grife Dona Antônia e se tornar em uma semana conhecida ela venderia franquias no mundo todo. Na Itália seria mais conhecida a sua grife do que os pontos turísticos.

Mas se fosse o Gabriel que ganhasse o campeonato de Uno, no dia seguinte ele compraria um zoológico. Ampliaria a ilha onde ficam os macacos e nomearia o macaco mais engraçado de Melú, o porquê disso pouca gente vai entender num primeiro momento, mas se lhe perguntar ele explicará o motivo com alegria.

Gabriel rapidamente se tornaria um artista, seria um ótimo comediante. Com sacadas genias entraria no ramo de entretenimento e de lazer. Em prazo curtíssimo construiria parques maiores do que o Wet’n Wild e o Hopi Hari. Após dez anos do começo dos seus investimentos ele se tornaria sócio majoritário da Disney, com o controle absoluto do conglomerado.

Estudaria artes e desenho. Aos vinte e cinco anos começaria a criar personagens de desenho infantil. Seria o rei da arte e o seu nome entraria no Guines Book como o maior criador de personagens de desenho de todos os tempos. Seu nome seria imortalizado e nos maiores montes do planeta seriam feitas propaganda da sua marca GADA (Gabriel, Artes, Desenho Animado).

Casaria, teria dezoito filhos, trinta netos, cinqüenta bisnetos e cem tataranetos . A última notícia dele seria sobre o seu aniversário de cento e setenta e cinco anos. Depois disso ele abandonaria a mídia e passaria a viver só para a sua imensa família, em uma das suas diversas propriedades na zona rural de Minas Gerais.

Entretanto, se tivéssemos a Lidiane como vencedora ela se tornaria a maior produtora de eventos do mundo. Ela seria empresária de todos os ramos possíveis. Seria bilionária rapidamente. Após um longo tempo de reflexão passaria a produzir efeitos especiais. O seu nome viraria sinônimo de sucesso no carnaval, nas passarelas da moda, nos filmes de ficção. A marca Lidi, seria eternizada e a festa da entrega do Oscar seria o ponto alto da marca, pois por ela seria patrocinada.

Lidiane acabaria por desenvolver técnicas de dramaticidade, que seriam patenteadas. Criaria uma companhia de teatro e contracenaria com sua irmã mais velha em uma peça que ganharia o mundo. E ficaria para sempre na Broadway.

Acharam pouco? Isto é só um dos caminhos para os vencedores do campeonato de Uno, caso eu vença talvez eu proponha criar uma instituição de ajuda ao idoso, com o nome do Jogo, Uno, o dinheiro é muito alto, decidi ajudar o próximo. Depois disso eu vou viajar para conhecer os caminhos descritos na bíblia, vou levar meus pais.

Mas, voltando para o curso natural da narrativa, pois ainda falta um pouco, lembro que o nono dia de Uno foi no dia 19 de fevereiro, uma sexta-feira, na casa do Carlos, começamos a jogar depois das vinte e três horas.

Os competidores presentes sentiram falta do décimo segundo elemento, que outra vez não pode comparecer. Ela tinha um compromisso importante no domingo e não podia gastar energias com outra coisa.

É claro que antes do duelo iniciar comemos pizzas, das mais diversas possíveis, sendo a preferida das crianças a de chocolate. Na mesa do jogo o bicho pegou para o lado da líder.

Começamos com a Giovanna em primeiro lugar, ela tinha que defender a liderança, mas a batalha seria difícil, pois eu, que era o segundo e o Alessandro, que era o terceiro estávamos muito próximos.

A primeira rodada o Alessandro ganhou e pensamos que ele ganharia forças, mas foi só fogo baixo. Na segunda rodada a Marina faturou e continuou a sua política de pontuar sempre. Nas rodadas terceira e quarta eu ganhei e me tornei líder. Na quinta rodada a Dona Antônia, próxima anfitriã, ganhou. Na sexta o Gabriel ganhou e segue vivo no torneio. Na sétima rodada a ex-líder Giovanna ganhou. Na oitava e na nona rodada tivemos uma dobradinha e escutamos: uh! Caramuru! O Carlos ganhou a oitava e a Janaína à nona rodada, no nono dia, para tanto ela abriu um champanhe. Na décima rodada eu novamente ganhei e me isolei na liderança (foto destaque).

No dia 20 de fevereiro era aniversário da Dani, então paramos o jogo as onze e cinquenta e nove do dia 19 e a parabenizamos pela passagem da data. Ele deu uma sugestão, que não foi aceita, queria pontos como presente. A mesa não aceitou, apenas o esposo Alessandro ensaiou timidamente ceder os pontos para a aniversariante, mas não conseguiu.

Neste nono dia tivemos crianças chorando, dizendo que não queria mais jogar, pessoas sendo punidas por falarem em momentos inoportunos e alguns curingas que mandavam as pessoas pescarem mais quatro.

O nono dia acabou em plena madrugada e a tábua da classificação ficou assim: Eliel com 4.264, Giovanna com 3.452, Alessandro com 2.792, Carlos com 2.178, Daniela com 2.099, Marina com 1.887, Yzadora com 1.747, Janaína com 1.270, Dona Antônia com 1.241, Valdecir, por enquanto eliminado, com 1.134, Gabriel com 1032 e Lidiane com 377.

A próxima rodada será no dia 06 de março, que coincidentemente é hoje. Duas famílias foram para a praia, a fim de terem mais tranqüilidade na continuidade do campeonato, teremos muitas histórias para contar, inclusive do talão de multa do policial rodoviário que o Carlos rabiscou. Rumo ao décimo dia de Uno. Aí, como Deus é “bão”!




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