sexta-feira, 9 de abril de 2010

O religioso

ELE:
Abriu os olhos e contemplou a escuridão. O dia ainda não amanhecera e sua esposa permanecia esparramada na cama, mesmo com o calor escaldante de verão e sem ventilador, ainda dormia o sono dos justos.

Levantou-se, foi até o banheiro do seu quarto, apanhou uma muda de roupa de inverno que estava pendurada atrás da porta e se vestiu. Voltou até a base da cama tateando para em nada tropeçar e se ajoelhou. Abaixou a face até o chão e fechando os olhos fez uma oração espontânea, rogando proteção de Deus.

Orou por trinta minutos. Depois ficou em posição de lótus e como se estivesse dormindo entoou um mantra sem mexer os lábios. Passado quarenta minutos ele saiu do estado de transe.

Olhou para fora e percebeu que o dia já estava raiando. Foi novamente ao banheiro retirou toda roupa e começou a se banhar, enquanto bendizia ao mundo, a natureza, aos seres vivos etc. Passado dez minutos saiu da casa de banho e foi ao quarto de vestimentas.

Entrou no aposento, vestiu uma calça e sentou-se numa espécie de cama, pegou a bíblia, leu o capítulo 118 do Livro de Salmos vinte vezes. Era uma simpatia. Em seguida pegou o Alcorão e começou a devorá-lo. Transcorrido vinte e cinco minutos seus olhos ficaram embaçados pelas lágrimas e seu corpo começou a se convulsionar pela emoção que experimentava.

Acalmou-se e vestiu o uniforme da empresa. Em pouco tempo estava na cozinha onde tomou o desjejum e saiu para a rua. O seu relógio marcava pontualmente oito horas da manhã.

Apressou-se e conseguiu passar um pouco na missa da matriz, na sessão do Centro Espírita da rua estreita, na Igreja Universal do Reino de Deus perto da floricultura das Rosas, receber orientações de um grupo de mórmons e saudar uns velhinhos que caminhavam próximo ao parque público da cidade.

Chegou ao trabalho às nove horas em ponto. Cumprimentou os companheiros da seção e foi pegar a lista de pedidos. No caminho sentia paz. Ao retornar para sua máquina, uma prensa hidráulica enorme, pediu proteção aos orixás e tudo que pudesse servir de ajuda contra o mal.

Sorriu ao ver chegar à hora do almoço. Não comeu comida. Foi orar no banheiro, clamou e agradeceu a Deus pela vida e pela paz que sentia.

Pensou e novamente ponderou. Por fim decidiu ir embora da empresa, não voltaria para trabalhar a tarde, acreditava estar perdendo tempo.

Saiu no meio do dia do trabalho. Acabou não dando satisfação para ninguém, fora o seu chefe poucas pessoas notaram sua falta vespertina.

Chegou na sua residência e foi para o sofá. A sua mulher, à tarde, o encontrou deitado. Ao se aproximar percebeu que ele estava frio e sem pulsação. Neste instante ela ficou desesperada, mas em seguida chegou a pensar que estava ficando louca, pois ele abriu os olhos e lhe acalmou dizendo que estava tudo bem.

Naquela noite ficou contemplando a escuridão até o sono chegar, em sua mente repetia sem cessar a frase: como Deus é bom.





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