quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um amor quase esquecido



Os olhos eram frágeis, choravam e demonstravam dores, que deveriam estar abrasadas na mente. As mãos tremiam, enquanto o último adeus era acenado, para aquele que ela bem sabia que nunca deveria ter entrado na sua vida, na sua intimidade e no seu coração.

A partida do amado a deixava quase louca, mas não havia remédio e a decisão que juntos haviam tomado na noite anterior, atestava que estavam maduros para entenderem a impossibilidade de viverem aquele amor.

A verdade é que ambos sabiam que o fato de serem primos e desde a infância terem cultivado admiração, carinho e amor poderia ter sido um fator de facilidade em outra época. No entanto, agora era um fator de complicação, pois o casamento de ambos, com pessoas diferentes, já estavam marcados.

O casamento dela aconteceu na semana seguinte à partida do amado. O casamento dele aconteceu semanas depois da sua formatura, no curso de medicina, que ele fizera na capital, longe da fazenda natal. Os primos amantes foram residir em cidades diferentes. O moço e moça nunca mais se viram.

Porém, muitas noites, no silêncio dos seus quartos, lembravam dos rostos amados e daqueles dias da infância, onde havia ternura e inocência. Eles também jamais se esqueceram daqueles meses na mocidade, quando dividiram a mesma casa e se beijavam toda noite. Mas, a lembrança mais forte era a da noite em que se conheceram em uma cama simples, de lençol extremamente branco, que ficou manchado com o sangue de ambos, como se um pacto de lealdade, entre suas almas, tivesse sido feito.

A história teria ido para a sepultura junto com os amantes, caso um capricho do destino não a tivesse salvado. Um descendente reunindo cartas, fotografias e documentos antigos para traçar a história da família, deparou-se com cartas, que falavam das mesmas memórias e com datas que batiam e logo descobriu a força do amor que jamais apagou, mas que não pode ser vivido na plenitude por dogmas, paradigmas e outras circunstâncias da época.

O descendente sentiu-se nostálgico, mas ficou exultante com a história que havia descoberto e a colocou na memória do sobrenome e a narrativa amorosa passou a ser contada de geração em geração. Enfim, o amor sobreviveu nas palavras, onde ele jamais de fato morre, envelhece ou desbota.

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