segunda-feira, 6 de junho de 2011

Uma jóia rara...


Em um quatro de junho, de um distante 1951, nascia em uma colônia de Usina, uma menina pobre, filha de pessoas honestas, trabalhadoras e de grande perseverança. Foi batizada com o nome de Luiza Caetano da Silva.


A mãe, Dona Tereza, era uma autêntica do lar, daquelas que cuidava dos filhos, da casa e do marido. Ela trabalhava de sol a sol para garantir que todas as coisas saíssem da melhor maneira possível. Casou-se cedo e teve seis filhos.


O pai, com um nome bastante comum, José da Silva, era um verdadeiro chefe de família. Acordava cedo, ia trabalhar para garantir o sustento da casa. Era rígido, mas muito carinhoso. Porém, quis o destino que a sua existência fosse curta e antes de poder ver os filhos crescerem a morte o levou. A sua lembrança, jamais foi apagada da memória dos filhos e da viúva, que nunca mais se casou.


Luiza, por ser pequena, ganhou na infância, o apelido carinhoso de Luizinha e sendo a terceira filha de José e Tereza teve que ajudar a mãe, agora viúva, a dar guarida à família. Ainda criança, Luizinha auxiliou a Dona Tereza na tarefa de cuidar dos outros irmãos.


Ao analisar a situação entendeu que a mãe precisava de grande apoio e assim fez. Aos doze anos já era uma guerreira, mas jamais perdeu a docilidade.


Os dias de brincadeira na Usina Cillo, na colônia, ficaram rápidos para trás e ela seguiu com a graça de um adulto para enfrentar a vida.


Enfrentou as dificuldades do cotidiano, mas jamais deixou de trazer um sorriso no rosto e que sorriso! Como sempre foi lindo o sorriso da Luizinha...


A tentativa de entender a vida de um ser humano é tarefa pesada, e por mais proximidade que se tenha com a pessoa, há sentimentos que escapam de qualquer registro. No entanto, a essência é possível perceber, pois é como perfume, que de longe se sente e aprecia.


A essência da Luizinha sempre foi a bondade, fazer o bem sem olhar a quem. Desde cedo ela escolheu estender a mão, acariciar quem precisasse e demonstrou grande exemplo de empatia ao conseguir se colocar no lugar do outro com sinceridade.


Logo após completar doze anos batizou-se na Congregação Cristã no Brasil e uniu-se a Deus. Como não melhorar? A bondade, o amor, o carinho e o respeito ao próximo já eram presentes em suas ações, e depois de se tornar uma seguidora de Deus, passou a ser uma pessoa mais iluminada, daquelas que chegam e alegram o ambiente.


No começo da adolescência encontrou um moço, que seria seu marido, companheiro, pai dos seus filhos e uma verdadeira alma gêmea, que ela reconheceu quando olhou e o seu coração comungou da mesma opinião dos seus sentimentos.


Alcides Miranda Filho, moço simples, de família humilde era também batizado na Congregação Cristã no Brasil. Na época, com quinze anos de idade, começou a conversa com Luizinha e da amizade evoluíram para um relacionamento sério.


Luizinha trabalhava de doméstica na casa de estranhos para ajudar a mãe nas despesas do lar. Alcides trabalhava como vidraceiro. Eram evangélicos e acreditavam na providência divina.


Os encontros, do casal de namorados, eram feitos sob os olhares atentos de familiares e de amigos. Ele morava na cidade e ela residia na colônia da Usina Cillo. Eles iam à mesma igreja e às vezes, à noite, ele ia para a casa dela com a sua pesada bicicleta. A bicicleta de Alcides tinha um “farol” que iluminava com maior intensidade, quando se pedalava forte, e com certeza ele tinha muita energia para pedalar.


O casamento não demorou muito para acontecer e no dia 24 de maio de 1969, em um dia sem grandes alardes casaram-se. A foto em branco e preto mostra feições alegres de jovens, que não se preocupavam como iria fazer com a vida, porque sabiam que Deus estaria junto. Ela tinha dezessete anos e ele tinha vinte anos.


Quais eram os pensamentos de Luizinha e Alcides é difícil de saber, mas seus sorrisos transmitiam paz e uma fé inabalável de que tudo daria certo.


Com nove meses de casados Deus lhes deu um filho, que batizaram como César Augusto Miranda. Passados três anos Deus lhe deu outro, Carlos Roberto Miranda. Transcorrido mais quatro anos Deus deu mais um filho, Alessandro Miranda. Luizinha, logo teve outra gravidez, mas perdeu o bebê, ainda em início de gestação.


Desde muito nova, Luizinha sempre dizia que queria ter quatro filhos e assim foi. Com o mesmo amor, com o mesmo sentimento de mãe, gerou o seu quarto filho, que nasceu após treze anos de casada; Eliel Miranda. Luizinha ainda teve outra gestação, mas o bebê nasceu morto e da sua boca saíram palavras sábias, ela disse: “Deus sabe o que faz”.


Com quatro filhos, seguiu o exemplo da mãe, a Dona Tereza e foi uma verdadeira do lar. A rotina era acordar cedo e cuidar para que os filhos mais velhos fossem para a escola e que os mais novos dormissem bastante.


Luizinha acordava bem cedo para ajudar Alcides a se aprontar para ir ao trabalho e nunca deixou de fazer isso. Foi e ainda é, fiel companheira.


Era comum, após o seu doce bom dia, ela dizer para os filhos mais jovens: “vá dormir, pois quando você começar a trabalhar não poderá mais dormir o quanto quiser”. Para os filhos mais velhos ela ajeitava tudo para que fossem a escola com bastante asseio. Que mãe carinhosa...

Luizinha sempre ia até ao portão e após a despedida ficava acenando para o marido ou para o filho que partia, tal como se dissesse: “vá com Deus e em paz, eu estarei te esperando quando você voltar”.


O tempo foi passando e Luizinha matinha seu jeito amoroso, religioso e protetor. As dificuldades vieram, mas em todas elas teve a mão de Deus presente. Com grande consciência e gratidão orava a Deus e ele colocava paz em seu coração.


As dificuldades normais da vida lhe bateram a porta e ela nunca disse uma palavra amarga, mesmo quando as lágrimas brotaram em seu rosto, pelas vicissitudes da vida ela não disse algo negativo. Ela podia sofrer o que estivesse sofrendo, quando uma visita chegava, ela tinha um sorriso pronto no rosto, o mesmo abraço gostoso e uma palavra amiga.


Por diversas vezes, com o coração apertado, Luizinha foi à igreja, orou e agradeceu a Deus pela vida e Deus lhe afagava o espírito. Apesar de ser evangélica, sempre respeitou todas as religiões.
Com a sabedoria das grandes almas não impôs suas crenças, convicções ou despendeu atenção menor a um ser humano menos favorecido.


A vida, como ave que procura seu ninho, prosseguiu sua trajetória e o seu segundo filho saiu do lar para estudar. O Carlos foi morar na cidade grande e Luizinha, mesmo com o coração preocupado, lhe desejou boa sorte e rogou a Deus por ele. O trabalho dela aumentou, passou a cuidar desse filho aos sábados. Lavava e passava roupa da semana inteira para que o Carlos pudesse ter as mesmas roupas durante a semana. A verdade é que dinheiro aos montes ela não tinha para mandar para ele, mas mandava o seu amor e seus préstimos. Acima de tudo orava para Deus ajudar e guardar aquele menino de dezessete para dezoito anos na cidade de São Paulo... e Deus guardou.


Logo outro filho partiu, o César, se casou, e Luizinha com o mesmo sorriso no rosto, olhou em seus olhos e pediu a Deus por ele, o abraço deve ter sido de paz, um filho estava entregue. Deus o acompanhou e também o abençoou. Em todos os momentos que ele precisou a Luizinha esteve presente.


Passado mais alguns anos, Luizinha continuou demonstrando grande carinho e fazia gestos de amor, para com a família. Ela acordava três e meia da madrugada, sempre de bom humor, para fazer comida, para que o Eliel, seu filho caçula, pudesse levar a marmita sem perigo de azedar, para o SENAI, que fazia em Piracicaba.


Luizinha começou depois de muito tempo a trabalhar fora, não para ganhar dinheiro, mas sim para ajuntar tesouros nos céus, começou a limpar a igreja e toda semana ia feliz. Depois da limpeza um cafezinho com as irmãs da Congregação Cristão no Brasil e gostosas gargalhadas.

Luizinha orou bastante para que o Alessandro, o seu terceiro filho conseguisse um bom emprego e Deus o abençoou, tornou-se policial militar, em um concorrido concurso.


Com o tempo Luizinha abraçou quatro netos, vindos do primogênito César e da Alessandra. O Elife, o Eliabe, o Vinícius e o Bruno.


Quando as coisas caminhavam em águas tranqüilas o seu filho Alessandro, então com vinte e três anos, anunciou que a namorada estava grávida. Passado um mês desse aviso, o seu filho Eliel, então com dezoito anos, contou para Luizinha, que igual ao irmão, também havia engravidado a namorada.


Luizinha, longe de ficar brava ou dar sermão caiu na risada e orou a Deus pelas crianças, seus netos, que viriam. Do Alessandro nasceu Yzadora e do Eliel e da Marina nasceu o Gabriel. Ela orou e Deus esteve na vida destes filhos, que antes do casamento constituíram família.


Luizinha sempre teve paz. Os anos passaram, mas seu espírito não envelheceu, continuava sorrindo e sorrindo. Depois de algum tempo a vida lhe deu mais uma neta, vinda do Carlos e da Janaína, a Giovanna.


O Alessandro se casou com a Daniela e depois o Eliel se casou com a Marina. A vida voltou ao início. Ficou o casal, a Luizinha e o Alcides. O sentimento de dever terminado, tarefa cumprida encheu o peito dela e do marido. Continuaram indo para a igreja e agradecendo a Deus.


Quantas recordações temos! Quantas saudades daquelas casas apertadas materialmente, mas enormes e amplas em amor, carinho e, sobretudo, em paz.


Bem, a menina Luizinha cresceu, casou-se e teve filhos. Fez dez, vinte, quarenta e agora faz sessenta anos. Caso fossemos chamar aqui todos os seus amigos, para a comemoração do seu aniversário, um estádio seria mais apropriado.


Luizinha é exemplo de ser humano desprendido de vaidades e do ego. Ela sabe entender e traduzir em gesto a arte da convivência. Ela se importa com as pessoas e sabe sempre ser otimista e alegrar nossos dias, apenas pelo fato da sua presença.


Esta singela homenagem é para que a irmã, a esposa, sogra, avó e a amiga Luizinha saiba que nós nunca a esqueceremos e que precisamos do seu sorriso.


Luizinha para nós, que temos o privilégio de chamá-la de mãe, queremos dizer que, por mais que vivêssemos não poderíamos pagar o bem que a senhora nos fez, embora saibamos que o papai ajudou muito, que o Senhor Alcides é um anjo nas nossas vidas, como a senhora também é.


Obrigado mãe, pela paciência e pelo respeito que teve e têm por nós. Saiba que nós a amamos muito e que todo esse sentimento se deve à senhora, que nos mostrou o caminho do amor.

É isso mãe, se faltaram elogios no dia a dia, deixamos agora toda a nossa satisfação, alegria e gratidão por a senhora ter aceitado ser nossa mãe.


Obrigado mãe, por ter nos ensinado a andar, a falar, a ser honesto educado e a acreditar que tudo o que temos foi Deus que nos deu. Realmente mãe, Deus é muito bom e misericordioso.


Obrigado por ter se casado com o papai e ter sempre amado o tanto e como o amou. É por isso, que acreditamos na família e na união conjugal. Que Deus te conserve por muitos anos juntamente com nosso pai.


Finalizamos, dizendo que a senhora é de fato uma jóia... uma jóia muito rara. Obrigado Deus, pela oportunidade de dizer tudo isso ao seu anjo aqui na terra, que atende pelo nome de Luiza da Silva Miranda, nossa Luizinha ou simplesmente nossa mãe!


Um comentário:

  1. Muito bom o conteúdo do seu blog e parabéns por este em especial.

    “Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá.” Êxodo 20:12

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Obrigado. Fica com Deus.