terça-feira, 7 de agosto de 2012

Boa sorte



Certo dia, um homem, após muito trabalhar, economizar e ser honesto, perdeu tudo o que possuía. Trocou os seus bens pela vida da filha mais nova, que em razão de doença precisou de um caro tratamento médico.
Porém, este homem conseguiu a cura para a sua filha. Com a família em paz, começou a trabalhar junto com a esposa e os outros dois filhos em casa. Produzia pão e vendia na rua de porta em porta. Acordava às duas da manhã e só parava de trabalhar quando o sol ia dormir.

O tempo passou e este homem alcançou o sucesso. Logo abriu uma padaria, depois teve um supermercado, até conseguir construir um shopping. Viajou pelo mundo a fora. Os seus filhos casaram-se e foram igualmente bem sucedidos.

Na velhice, um repórter interessou-se por sua história e foi fazer uma matéria com o homem, que agora era muito rico. O repórter começou perguntando se ele se considerava um homem de sorte. O homem sorriu e disse: “Sorte? Estou muito idoso para acreditar nela”.

O senhor continuou e disse: “Filho, a sorte é uma palavra muito traiçoeira, ambígua e deve ser usada com cuidado, pois poderá ser mal interpretada”, ressaltou. Para aquele homem a sorte podia ser considerada Deus, ou até mesmo o acaso.

Talvez predestinação por escolha aleatória. Falta de mérito. Bondade injusta de quem escolheu o sortudo. Mera roleta necessária. Verdade oculta. Mentira deslavada. Crendice.

Ofensa à inteligência. Desprezo ao esforço. Inveja de quem julga. Falta de discernimento do observador, critério universalmente aceito sem questionamento. Seleção natural, fé, dor de cotovelo.

Confusão do mundo espiritual. Maldade gratuita. Benevolência da ancestralidade. Engano do distribuidor de brindes. Preguiça do raciocínio. Ditado popular. Ansiedade da comparação.

Ciúmes, loucura, doença contagiosa de quem pratica o bem, paz de quem trabalhou enquanto outros dormiam. Estado de espírito do amor. Alegria, paciência e foco. Aceitação, direção certa do desejo.

Imortalidade. Questão hormonal. Linha reta. Nome do trio de gnomos que guardam o pote de ouro no final do arco-íris. Lágrimas. Obstinação. Vento ao seu favor. Piloto automático. Doce lembrança da vitória.

Ausência de dor. Lamento silencioso. Abraço sincero do destino. Amizade com o Criador. Fase. Iluminação. Renascimento. Música perfeita. Liquidação de bênçãos. Explicação inócua. Abraço do desconhecido.

Jogo da vida. Amizade com quem manda. Deliberação do vento. Razão complexa. Ofensa a igualdade de oportunidades. Falta de planejamento. Maneira impensada. Estrela na testa. Propriedade natural.

Poço dos desejos. Atalho. Estada da facilidade. Encaixe perfeito. Melhor lugar do mundo. Satisfação. Encarceramento do pessimismo. Culto aos dados, que sempre caem na maior numeração. Enaltecimento do otimismo. Casamento perfeito.  

Aplauso antes do sucesso. Visão aguçada. Jeitinho. Direção segura do trabalhador. Serenidade diante da decisão. Abraço apertado da felicidade. Porto seguro da perseverança. Chegada vitoriosa da convicção. Teimosia.

Competência. Baile das possibilidades. Dia de glória. Ajuste, com troco. Águas tranqüilas. Velhice com saúde. Prazer. Companhia agradável do imaginário, que faz do impossível algo possível. Honestidade de conduta e afago do bem. “Enfim, pode ser tudo isso, ou nada disso”, exclamou.

O repórter nem terminou de fazer a entrevista, considerou que fora afortunado naquele encontro e escreveu um artigo sobre a sorte. Por via das dúvidas, o repórter nunca mais perguntou para alguém se a pessoa se considerava uma sortuda. Talvez por precaução ou por acreditar que sorte é tão somente um estado de espírito. No final dos encontros o repórter passou apenas a desejar boa sorte, pois, desta forma não tinha como dar errado, uma vez que todos entendem de maneira positiva esta expressão.       

Boa sorte.

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